9 Bairros de braços abertos

Andreia Fernandes
#Editorial


Percorrer o Grande Trilho de Santa Maria e dormir em antigos palheiros de pedra convertidos. Assistir ao “colorido anfiteatro flutuante” em cumplicidade com o Festival Maravilha do Faial, na Marina da Horta. Correr o Pico, “das vinhas até ao topo da montanha”, e aquecer com um caldo de peixe, na companhia dos amigos. Sentir a verdadeira noção de arquipélago, na “única ilha que une cinco”, São Jorge. Aportar na Barra, onde desembarcou Padre António Vieira, ou descobrir “barcos guardados no segredo da pedra de Porto Afonso”, e comer uns pastéis de abóbora à moda antiga, na Graciosa. Crescer no Corvo e refugiar-se na música. Ou ouvi-la na Terceira, onde “uma em cada três pessoas toca um instrumento”. Testemunhar “cascatas em turbilhão”, num inverno nas Flores, e desvendar “a originalidade de uma ilha que depende do tempo”. Encontrar “serenidade” em Ponta Delgada, numa perspetiva de São Miguel. 

“Viver ao ritmo que a natureza nos oferece”, com “direito a descansar depois do ponto final”. Observar as nuvens como propostas existenciais. Desopilar em ilhas que “acontecem. Mesmo quando não se as busca”. Que redescobrimos nas nossas artes - plásticas, fotográficas, na música, na poesia.

São convites que nos chegaram na segunda edição desta revista, a testemunhar que merecemos ser Capital Europeia da Cultura em 2027 - É esse o propósito da 9 Bairros, o suporte à candidatura açoriana, que se renovou com a passagem a uma fase final, edificando-se entre as 4 pré-selecionadas. Dia 07 saberemos se Ponta Delgada foi mais sedutora do que Aveiro, Braga e Évora. 

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Semana a semana, temos sido presenteados com partilhas que “nos unem e nos prendem”. Porque, apesar de sermos embarcadiços, como disse Nemésio, somos cativos deste lugar. E, lá fora, para além da ilha, somos açorianos.  

É a representatividade de todo o arquipélago, na sua pluralidade, que procuramos na linha editorial deste projeto, herança do Nuno Costa Santos e da Sara Leal, que a Margarida Sodré tem orientado.

Nas nossas redes, agregámos artes vindas das nove ilhas, como de nove colinas, dos nove bairros que nos dão nome, nove diferentes elementos (com uma natureza comum) de um conjunto que vale pelo seu todo. 

“O que as ilhas têm de mais belo e as completa é a ilha em frente”, considerou Raul Brandão. É o que se sente por cá, quando, em dia de bom tempo, a Terceira vislumbra São Jorge aqui tão perto, como companhia frente a um horizonte de mar infinito.

E, se há nas ilhas uma unidade na diversidade, uma versada açorianidade, singularizada por uma cultura própria, que nasce de uma geografia comum, há, também, no interior, uma índole de ser que nos identifica e agrega, e comove quem recebemos. Como percebemos na canção dos Trovante, Peter’s:

Há quem espere por nós assim
Mesmo ao meio da rota do fim
Há quem tenha os braços abertos
Para nos aquecer
E acenar no fim

Nós somos os braços abertos. 


Andreia Fernandes 
Subeditora da 9 Bairros