Espécies Maria Vitória

Ana Vitória Silveira
#House Special

​O Arquipélago dos Açores, por estar localizado no centro do Oceano Atlântico, em concreto a Ilha de São Jorge, por altura dos Descobrimentos foi um dos locais de paragem das Naus Portuguesas. Durante os Descobrimentos, as Naus aportavam nas Velas para se abastecerem de carne e queijo. E em troca deixavam especiarias oriundas das Índias.

​O nome "Espécie" deriva exatamente dessas especiarias. Este doce tradicional, muito apreciado, contém na sua confeção especiarias como erva doce, canela, pimenta, noz moscada, assim como açúcar, água, pão ralado, raspa de limão e manteiga. Tem a forma de pequenas rosquilhas de massa tenra, transversalmente golpeadas na parte superior, deixando adentrar o recheio acastanhado. 

De salientar que a qualidade das "Espécies de São Jorge" tem o garante do Selo da Marca Açores: "Açores certificado pela natureza".

Maria Vitória Batista por © Jorge Blayer Góis
Maria Vitória Batista por © Jorge Blayer Góis


Receita de Maria Vitória Batista


Recheio:

1 kg de açúcar;

1kg de tosta (pão ralado);

80 gr de canela;

60 gr de erva-doce moída;

1 c. de sopa de margarina;

1 litro de água;

Raspa de 4 limões;

Noz moscada a gosto;

Pimenta Branca a gosto.


Preparação:

Leva-se ao lume, até ferver, todos os ingredientes menos a tosta.

Quando o recheio já estiver a ferver, junta-se então a tosta aos poucos e mexendo.

Deixa-se cozer mais ou menos cinco minutos, e depois arrefecer.

Quando está frio, fazem-se pequenos rolinhos, que depois iram ser colocados no interior da massa.

Massa Branca:

​1kg de farinha;

​200gr de margarina;

1 c. de sopa de açúcar;

1 ovo;

Água morna e leite q.b;

Uma pitada de sal.


Preparação:

Mistura-se tudo numa tigela e amassa-se, ficando uma massa dura.

Deixa-se descansar durante algum tempo.

De seguida, sova-se.

Estendem-se pequenas porções com um rolo até a massa ficar fina.

De seguida, cortam-se tiras desta massa com uma carreta e, numa das partes, aplicam-se cortes na diagonal. Colocam-se os rolinhos de recheio nesta massa, ajeita-se, moldam-se, fecham-se e recorta-se por fora com a carreta.

E forma-se a espécie, em forme de ferradura ou rosquilha. 

Maria Vitória Batista por © Jorge Blayer Góis
Maria Vitória Batista por © Jorge Blayer Góis


Maria Vitória Batista (20 de Agosto de 1929 - 28 de Novembro de 2022).

Natural da Freguesia de Rosais, Concelho de Velas, dedicou mais de 35 anos à confeção deste doce tradicional.

Mãe de três filhos, duas raparigas e um rapaz, e avó de duas netas, com 93 anos continuava a dedicar-se com afinco à confeção das Espécies, que outrora serviam para a ajudar a pagar os estudos às suas filhas. Agora, fazia-as mais por distração e manter-se ativa.

Quanto ao sucesso, este está na mão. Maria Vitória não provava as espécies quando as estava a fazer. O resultado estava no seu toque pessoal. As espécies feitas por Maria Vitória chegaram a vários cantos do mundo, desde Brasil, Canadá, Estados Unidos da América, Nova Zelândia, Portugal Continental e a todas as Ilhas dos Açores. Dizia que continuava a fazer enquanto pudesse, pois davam-lhe vida.

Deixou-nos de herança a sua receita, pelas mãos da neta Ana Vitória Silveira. Partilhamos em sua memória.