Arco 9 - Mixtape

#Walkman
© Guilherme Figueiredo - Big Sur
© Guilherme Figueiredo - Big Sur

De repente, o DJ ectomórfico de boné preto e laranja muda da electrónica dançável e cosmopolita para o rap metal agreste dos Rage Against The Machine. Rogério estremece e a pista enlouquece.”

Maria Brandão – Enlouquecer É Morrer Numa Ilha – ed. Companhia das Ilhas.

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Nostalgia de noites por entregar. Promessas de dias temperados com sal festivo. O melhor desta Terra é o Mar! No fio da madrugada a recordação de um Arco 8 que não volta mais. Na embriaguez da esperança o horizonte sob escuta. Sinal de um Arco 9 que há de vir? A demanda continua, condenada pelo culto de uma carga mítica extraviada e nunca aportada nestas ilhas. Outras gentes, outros ritmos. Formulo um desejo de novos sons para lá das fronteiras lamuriantes dos bardos das garças e dos borrachos de pandeireta que sitiam este cerco de cultura empalhada. Outra banda sonora, outras músicas. Neste solitário ermo de memórias, emoldurado com o esqueleto do Arco 8, sombra de um templo abandonado, fico à boca da doca num tetrápode grafitado à espera do eco festivo. Um beat a reverberar numa onda a quebrar no Poceirão da Ponta Delgada. Ali adiante. Ali em frente. Ali ao lado do Estradinho. Ali próximo do farol mortificado de Santa Clara. Ali onde pulsava o Arco 8. Ali, onde acabava a noite libertina e começava o dia mudo pontuado pelo cinzento, repetido à loucura, com a angústia do Mar a morrer num calhau entulhado de lixo. A festa acabou. Resta o seu farol sónico a rasgar o ruído branco dos dias sem nada. Com a humidade da noite dionisíaca no corpo, embrulhado na memória do dance floor, é tempo de enrolar um perfumado e de o acender incensando o raiar do dia. Como todas as noites de festa, depois da dança com discos perdidos, é tempo de atiçar a brasa que resta e que nos guia como náufragos numa ilha. 

JNAS 

Ouvir a playlist aqui.

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