Sophie Barbara

#Natureza humana


Ilha de onde é natural ou onde reside
Nasci na França, mudei-me para Portugal há 20 anos e vivo no Capelo, na ilha do Faial, há cinco anos.

Profissão
Trabalho em produção cultural. Tenho uma pequena produtora, há 12 anos, "Barca13", dedicada essencialmente a projetos cinematográficos. Desde que vivo nos Açores, nasceram dois novos projetos: "Insulares Filmes", que se destina a produção audiovisual no arquipélago e "AvistaVulcão", um espaço que acolhe artistas em residência e os seus projectos.

Faz – ou fez – parte de alguma associação, coletividade, banda filarmónica, etc? O que a levou a envolver-se?
Gosto participar em atividades organizadas pela comunidade. E quando cheguei aos Açores, naturalmente procurei participar nos eventos sociais e culturais da ilha. Fiquei admirada com a quantidade de actividades culturais, sociais e desportivas organizadas, tanto pelas instituições da cidade como, e especialmente, pelos grupos locais das 13 freguesias da ilha. A vida social e cultural nas freguesias rurais interessa-me particularmente pelo patrimônio que representa e pelo seu dinamismo próprio e a sua grande capacidade de agrupar e de organizar eventos com e para as pessoas.


Qual a sua memória preferida ligada a um evento cultural em que tenha participado/ a que tenha assistido? Porquê?  
Tenho muito boas memórias ligadas a eventos culturais. É difícil escolher só um. Mas todos têm um ponto em comum: é terem sido momentos de expressão cultural, onde o colectivo permitiu atingir momentos de grande emoção. Um dos meus maiores gostos num evento, enquanto produtora mas também enquanto público, é quando se consegue assistir a um momento único, que não poderá ser repetido, onde a emoção individual é multiplicada pelo facto de estar a viver o momento de forma colectiva e pelo significado que tem para cada um. Quando essas condições estão reunidas, o evento torna-se algo de muito especial, que dá um sentido universal ao ato cultural.

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Sente-se ligada à cultura nos Açores? De que forma?
Atualmente, através das minhas atividades de produtora, estou muito ligada a projetos relacionados com o arquipélago, e os Açores estão no centro do meu trabalho. Quer seja através da produção de filmes,  produção de eventos, ou de residências artísticas, trabalho muito o tema da cultura Açoriana, pesquiso sobre a história das ilhas, os seus habitantes e as tradições culturais.  O trabalho de produção leva-me também a circular muito nas ilhas, e o meu conhecimento do território cresce a cada ano que passa. A minha vontade é de continuar com projetos sempre conectados com as pessoas e o território, aprender mais sobre a cultura açoriana e tentar valorizar a sua singularidade com projetos culturais de qualidade para a comunidade e para fora. 


Considera a cultura importante para a Região? Porquê?
"Tudo o que degrada a cultura encurta os caminhos que levam à servidão", diz Albert Camus. A cultura é fundamental para qualquer sociedade. Sem a cultura, como sem a educação, uma comunidade não evolui e pode chegar a perder a sua identidade, a sua singularidade, até mesmo a sua liberdade.  
A cultura está em todo sítio, ou seja, não é esfera reservada a uma minoria. Está presente não só nas instituições culturais e educacionais públicas, mas também nas ações de pequenos grupos, e nos eventos de caráter social e desportivo. A cultura é feita por todos e pode manifestar-se de várias formas, o importante é permitir que se expresse. Não gosto da ideia de a cultura ser algo reservado a um grupo restrito. Por ser um dos pilares da sociedade, a cultura tem que ter o maior acesso possível. Nos Açores, como no país inteiro, existem ainda muitas disparidades territoriais e sociais ao nível cultural. Por isso, qualquer projeto que permite maior acesso a usufruir e a produzir atividades culturais é benéfico à comunidade e torna a sociedade mais saudável. 


Como vê o futuro da cultura na sua ilha e na Região? O que a faz ser otimista/pessimista?
Nos Açores, que têm a particularidade de ser um território que ainda possui características culturais próprias e únicas no mundo, torna-se ainda mais importante salvaguardar o seu património cultura, para não arriscar ver parte dele desaparecer. Hoje em dia, e no mundo inteiro, a cultura é ameaçada pela globalização e pela politização, que infelizmente submete a cultura às leis do mercado. Nos Açores, é importante não deixar que essa pressão mundial molde a cultura açoriana, para evitar que seja reduzida a atividades folclóricas, no sentido de um ato cultural saído do seu contexto social e sem sentido para a comunidade.
Tenho o sentimento que a identidade cultural açoriana continua a ser muito expressa nas manifestações de comunidade, por ter um significado ainda forte para todos. E isto tem que ser protegido e valorizado. Também existe um desejo de transmitir às gerações futuras esse património cultural, mas temos que permitir que a juventude influencie a cultura local com a sua contemporaneidade. E as novas gerações têm que ser apoiadas neste sentido e dispor, por exemplo, de mais formações acadêmicas na área das artes e da cultura. 
Sinto-me pessimista quando penso que a cultura, como outros assuntos, depende demasiado do poder político e de como este direciona as suas prioridades e parte do seu orçamento. Contudo, sinto mais otimismo quando vejo muita força em projetos culturais realizados a partir da vontade das pessoas. E, apesar de os incentivos financeiros serem limitados na região, assistimos a projectos de grande valor cultural. Então não posso deixar de pensar que se a cultura fosse uma das prioridades dos nossos dirigentes, coisas ainda mais incríveis poderiam emergir.


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