A candidatura Ponta Delgada – Azores 2027 (doravante PDL–Azores2027) a Capital Europeia da Cultura nasceu de um movimento cívico intitulado “Por uma Capital Europeia da Cultura nos Açores em 2027”.  800 pessoas dos Sectores Culturais e Criativos e da sociedade civil assinaram um manifesto público, apoiando a formalização de uma candidatura regional que propusesse um projeto cultural catalisador de uma transformação social e económica. 

Em março de 2021, o Município de Ponta Delgada avançou com o projeto, tendo como copromotor o Governo dos Açores, e os Municípios da Horta e de Angra do Heroísmo. O objetivo era criar um projeto de longo termo que, partindo de Ponta Delgada, reforçasse a união arquipelágica através da cultura, juntando três pólos urbanos e políticos.

Perante o recuo dos Municípios da Horta e de Angra do Heroísmo em maio de 2021, o Município de Ponta Delgada tomou a dianteira do projeto. Esta Câmara Municipal criou uma equipa de missão autónoma para o desenvolvimento da candidatura. A equipa foi constituída por Paulo Mendes (Vereação da Cultura e Direção Executiva da candidatura), Nuno Costa Santos (Coordenação de Participação e Envolvimento de públicos), Gina Ávila Macedo (Coordenação de Comunicação e Marketing), António Pedro Lopes (Direção Artística), Carolina Pimentel (Produção Executiva e Administração), e os colaboradores externos Nelson Furtado (Coordenação de Gestão e Finanças) Nuno Miranda (Direção Criativa de Comunicação), Pia Leydolt-Fuchs e Ulrich Fuchs (Consultoria Especializada em Capitais Europeias de Cultura), Rui Monteiro e Ana Clara Roberti (Consultoria Especializada em Parcerias Internacionais), Sérgio Couto (Design) e Sílvia Tavares (Tradução). Paralelamente, contratou a consultora nacional OPIUM para o trabalho de criação de uma estratégia cultural que guiasse as políticas de cultura do Município até ao ano de 2030. Desse processo resultou o documento Estratégia Cultural Ponta Delgada 2030. As duas equipas desenvolveram os seus trabalhos de forma simultânea, por isso complementaram-se e partilharam recursos, achados e conclusões.

No sentido de fortalecer o projeto, e garantir diferentes níveis de participação, o Município constituiu uma Comissão de Honra para expandir e divulgar os desígnios da candidatura, um Conselho Consultivo para contribuir criticamente e ativamente no processo de candidatura e fundou, ainda, um Programa de Embaixadores cuja missão foi a de garantir que, em todas as ilhas, o processo de candidatura tivesse representação e fosse disseminado e humanizado. Além disso, manteve o desígnio arquipelágico, tecendo parcerias com todos os municípios das nove ilhas dos Açores, e com várias instituições e entidades regionais, tais como a Universidade dos Açores, a Associação de Turismo dos Açores, a Associação dos Industriais de Construção Civil e Obras Públicas dos Açores, a Câmara de Comércio e Indústria de Ponta Delgada, o Conselho Económico e Social dos Açores e a Associação de Municípios da Região Autónoma dos Açores.

Tomando em conta a sua dimensão cívica e participativa, o processo de candidatura adotou uma estratégia ascendente e comunitária. Envolveu os protagonistas dos Sectores Culturais e Criativos e a população em geral, através de um trabalho intensivo de mapeamento, auscultação e conversa. O processo iniciou-se ainda dentro de um período de circulação e ajuntamento muito restrito devido ao surto pandémico de covid-19, mas mesmo com restrições, e de forma progressiva, foram criados espaços digitais e presenciais de encontro, aprendizagem e intercâmbio. Diversas metodologias de participação e contribuição foram testadas, aplicando formatos experimentais e democraticamente acessíveis de design thinking, através de grupos de foco, conversas individuais e assembleias.  Procurou-se recolher diversas contribuições, ouvindo as mais variadas vozes, incluindo experiências e mundividências heterogéneas, e, através desse exercício, proporcionou-se o diálogo e o conhecimento mútuo de atores de sectores diferentes da sociedade. Foi dada especial atenção a uma geografia de afectos composta por diversas escalas — a cidade, a ilha, o arquipélago, a nossa diáspora —  procurando ligá-la através das pontes em comum e das suas singularidades. 

Foi a partir desse processo amplo de auscultação que a equipa concebeu projetos piloto, e estabeleceu uma visão, uma missão, um conjunto de objetivos que conceberam o conceito para a candidatura. 

A visão: PDL–Azores 2027 é um espelho da União Europeia, através de uma nova centralidade baseada na democracia cultural, no diálogo, na experimentação artística e na unidade pela diversidade.

A missão: Organizar uma Capital Europeia da Cultura, um grande evento cultural inclusivo, participativo e transformador, com visibilidade internacional.

Os objetivos: reforçar a capacidade do Sectores Culturais e Criativos (SCC) e promover o potencial cultural e criativo de Ponta Delgada e dos Açores; promover a participação, a inclusão, a democracia cultural, a capacitação e a intersecção de diferentes pessoas, através de um intenso diálogo entre práticas artísticas e realidades sociais; criar um movimento de entendimento mútuo, que englobe intercâmbios culturais passados e futuros, e que, começando na cidade de Ponta Delgada, se estenda por toda a ilha, pelo arquipélago dos Açores, pela Europa e pelos territórios da nossa diáspora; aprofundar as ligações simbióticas entre a natureza e a atividade humana através de práticas culturais e artísticas alinhadas com os objetivos de desenvolvimento sustentável.

O conceito: Natureza Humana. Natureza quer dizer Lugar. Humana quer dizer Cultura. A cultura de um lugar que se faz pelas relações entre Natureza e Cultura, Geografia e História, pela paisagem vibrante e atlanticidade, pela proximidade cultural com as Américas, pela riqueza das nossas tradições e pela nossa capacidade de nos mantermos abertos ao mundo como um autêntico laboratório vivo de experimentação e inovação. Acreditar que somos quem somos em virtude do lugar onde nos encontramos, e que agora, mais do que nunca, precisamos de valorizar o nosso sentido de Humanidade e de respeito pela Natureza como um só, através de um apelo à compreensão e à empatia entre humanos e não-humanos, tudo o que compõe a nossa Natureza. O conceito guia um projeto sobre uma cidade, uma ilha e um arquipélago, e toma a metáfora do arquipélago como um modelo alternativo ao pensamento global, baseado no intercâmbio entre ilhas, que não causa a perda de identidade, mas antes a enriquece, através de um movimento de convergência e de unidade. 

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Foi através desse conceito que, progressivamente e de modo coletivo, projetámos um programa cultural e artístico transdisciplinar e transinsular, onde as pessoas são as protagonistas, e a Natureza é palco e lugar de reflexão. Um espaço-tempo onde se envolvem novos públicos, se ocupa o mundo digital, e se dá palco a novas vozes e a novos lugares, num apelo à participação, cocriação, comunicação e colaboração. Imaginámos um recreio cultural, uma academia e um palco. Imaginámos Ponta Delgada e os Açores como epicentros de Cultura, onde se repensa o mundo em que queremos viver, se recupera o nosso sentido de humanidade e se valorizam os Açores como um Arquipélago de Pessoas.

O dossiê de candidatura da fase de pré-seleção foi entregue a 23 de novembro de 2022. Apresentaram candidatura 12 cidades portuguesas: Aveiro, Braga, Coimbra, Évora, Faro, Guarda, Leiria, Funchal, Oeiras, Ponta Delgada, Vila Real e Viana do Castelo. Em março de 2022, a candidatura PDL–Azores2027 a Capital Europeia da Cultura foi pré-selecionada como finalista entre as 12 cidades concorrentes, juntamente com Aveiro, Braga e Évora. Um painel de peritos nacionais e internacionais emitiu um conjunto de recomendações para detalhar o dossiê de candidatura para a fase final.

Os trabalhos retomaram curso em junho de 2022 com uma equipa renovada que contou com António Pedro Lopes (Direção Artística), Diana Diegues e João Rebelo Costa (Gestão de Projetos), Inês Linhares Dias (Coordenação de Comunicação & Marketing), Joana Filipe e Luís Silva (Assessoria à Direcção Executiva), Paula Pavão (Produção Executiva), Pedro Nascimento Cabral (Presidente da Câmara e Direção Executiva da candidatura) e Rita Serra e Silva (Coordenação de Participação e Envolvimento de Públicos) e ainda os colaboradores externos Pia Leydolt-Fuchs e Ulrich Fuchs (Consultoria Especializada em Capitais Europeias de Cultura), Pedro Gomes (Assuntos Legais), Patrícia Romeiro (Monitorização e Impactos), Pedro Silva (Gestão), Rui Monteiro e Ana Clara Roberti (Parcerias Internacionais), Sérgio Couto (Design) e Sílvia Tavares (Tradução).

A fase final teve três objetivos: 1– expandir e desenvolver os seis critérios de avaliação da candidatura (Contribuição para a Estratégia a Longo Prazo da Cidade, Programa Cultural e Artístico, Dimensão Europeia, Alcance, Gestão e Capacidade de Execução); 2– organizar uma visita de quatro elementos do painel de peritos à cidade e à ilha; e, finalmente, 3– preparar uma audiência final perante o júri Europeu. 

Para cumprir esses objetivos, a equipa de candidatura desenvolveu o alinhamento do projeto de candidatura com a Estratégia Cultural Ponta Delgada 2030, abriu um novo processo de auscultação, que passou pelas 9 ilhas dos Açores, para aprofundar conversas e incluir novos protagonistas, duplicou o número de embaixadores, deu seguimento e inaugurou novos projetos piloto, abriu uma convocatória para projetos, detalhou o projeto de gestão e compromisso político e financeiro com as diferentes entidades envolvidas, e encetou conversas e parcerias com operadores de todo o mundo.

A 7 de dezembro de 2022, a presidente do júri europeu Beatriz Garcia anunciou que o título da Capital Europeia da Cultura 2027 iria para Évora. Na mesma ocasião, o Ministro da Cultura Pedro Adão e Silva anunciou a figura de Capital Portuguesa da Cultura para as três restantes cidades finalistas, com uma contribuição do Governo da República de €2 milhões. Ponta Delgada será Capital Portuguesa da Cultura em 2026, depois de Aveiro (2024) e Braga (2025).

O que foi  O que fica retrospectiva o caminho de 18 meses de processo de candidatura, e perspectiva-o em direção a um futuro de infinitas possibilidades tomando a cultura como ferramenta de transformação. Neste documento, olhamos para as ações efetuadas durante o processo de candidatura, medindo os seus impactos, e imaginamos um futuro com as aprendizagens do processo, a Estratégia Cultural Ponta Delgada 2030 como guia e um processo contínuo de auscultação pública sobre o legado, o que levar para um amanhã, o que inaugurar, o que voltar a experimentar, o que fazer diferente e melhor e como continuar o trabalho aqui iniciado.