Ana Margarida Cunha Silva

#Natureza humana

Ilha de onde é natural ou onde reside
Natural da Ilha Terceira, mas a residir desde 2005 na Ilha de São Miguel 


Profissão
Socióloga e Diretora de Projetos 


Faz – ou fez – parte de alguma associação, coletividade, banda filarmónica, etc? O que a levou a envolver-se?
Comecei muito cedo a envolver-me nas dinâmicas comunitárias da freguesia. A vida numa freguesia faz-se de presença. Somos todos vizinhos e acabamos por nos envolver ativamente nas dinâmicas locais. Há sinais, modos de estar e de viver que nos são muito próximos. Desde cedo aprendemos que o sino da Igreja quando toca fora de horas é porque vem más notícias. E isso faz de nós seres culturais. Porque a cultura somos todos nós, seres humanos que vivem em sociedade, portadores de valores, crenças, costumes, tradições e identidades.  


Qual a sua memória preferida ligada a um evento cultural em que tenha participado/ a que tenha assistido? Porquê?  
Tenho a memória tão fresca que ainda consigo ouvir as batidas e o ritmo da música que acompanhou a brilhante interpretação da artista francesa Soizic Seon, que no início de julho, na cidade da Horta, integrou o espectáculo "Tuanake - Uma viagem poética acompanhada por pintura e música ao vivo", criando uma animação em tempo real, manipulando materiais com os seus próprios dedos, sobre uma bonita história de solidão. Uma interpretação rica em metáforas, sons, pedras, sedimentos, água, cores, que todos juntos, compuseram uma bonita história de perseveranca, amor e solidão. Um verdadeiro encontro de almas.

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Sente-se ligada à cultura nos Açores? De que forma?
Se falarmos da cultura enquanto traços da identidade individual e de grupo, de valores, de modos de estar e de viver, de saberes e tradições, de participação e respeito pela diversidade e pelo Outro, sim, estou muito ligada à cultura nos Açores. Mas se a cultura açoriana estiver representada apenas pelos bens materiais, daqueles que corrompem as pessoas, adquiridos ou construídos a peso de ouro, sem representatividade nem alma, sem pertença nem humanismo, dificilmente estarei ligada, e a isso, não poderei chamar de cultura.


Considera a cultura importante para a Região? Porquê?
Importante? A cultura é fundamental na nossa região, aliás para qualquer região/país. 
A cultura é tão importante que tem de ser um dos aliados na luta contra a pobreza que assola a nossa região. Porque a cultura abre horizontes, constrói discursos, agita consciências, desconstrói preconceitos. A cultura educa. A cultura Humaniza. 
Uma sociedade sem cultura é inevitavelmente uma sociedade mais pobre. E a pobreza não é apenas a privação de rendimentos ou de bens essenciais, a pobreza é, também, a privação de educação, de cultura, de acesso ao lazer e ao convívio. 


Como vê o futuro da cultura na sua ilha e na Região? O que a faz ser otimista/pessimista?
Sinto alguma preocupação. E interrogo-me qual será o futuro da cultura nos Açores se não houver o reconhecimento de que a cultura não é só um entretenimento. A cultura é a vida da nossa região. Não existimos sem cultura, nem mesmo que tentassemos, mas não quero com isso dizer que a cultura vive por si só. A cultura precisa ser apoiada, vivida, sentida, partilhada, valorizada.