Uma colaboração Ponta Delgada  Azores 2027, Arquipélago  Centro de Artes Contemporâneas e Part’ilha  Associação de Cultura e Desenvolvimento Local, em parceria com várias instituições e agentes das nove ilhas dos Açores.
Convocatória encerrada. 

9 x 9 - Artistas são Ilhas, Ilhas são Artistas é um programa piloto de residências artísticas de todas as disciplinas criativas, que decorreu nas nove ilhas dos Açores. O programa destina-se a artistas portugueses e estrangeiros residentes em Portugal continental e regiões autónomas e também a artistas da Letónia - país que, com Portugal, acolhe em 2027 o evento Capital Europeia da Cultura.

Este programa piloto de residências artísticas dos Açores nasce, através de parcerias com agentes, instituições culturais e municípios açorianos, com o objetivo de acolher e integrar artistas. Porque nenhum artista é uma ilha, os artistas podem colaborar e encontrar formas de levar conhecimento, experimentação e desafios a todos os setores da sociedade.

Este programa quer chegar às ilhas mais periféricas do arquipélago, atenuando barreiras de acesso a experiências artístico-culturais. Este projeto pretende, ainda, assegurar que as experiências artísticas acontecem em toda a região. É uma forma de iluminar e unir singularidades e as várias narrativas de um arquipélago fragmentado, e quer constituir-se como uma plataforma privilegiada de contar novas histórias sobre os Açores.

9x9 faz a ligação entre diferentes parceiros nas ilhas em torno de objetivos comuns, nomeadamente: deslocar a experiência da arte para as ruas, para negócios e para a natureza, ocupar lugares abandonados, abordar questões europeias importantes e contemporâneas como a participação ativa das comunidades nos processos criativos, o isolamento (solidão), a desertificação das ilhas, a migração por falta de oportunidades de trabalho, o envelhecimento da população, ativar o património material e imaterial e a criação de pontes entre a tradição e a contemporaneidade.

As residências artísticas focam-se na investigação e nos processos artísticos, e incluem momentos de desenvolvimento de públicos e de sensibilização das comunidades para as artes. As residências estão, por isso, ancoradas no processo mais do que no produto final, devendo incentivar a participação direta, seja através de conversas, oficinas, visitas escolares ou de outros formatos propostos pelos artistas, e devem terminar sempre com apresentações públicas. 

Os nove artistas fizeram uma residência artística durante 10 dias numa das ilhas açorianas, tendo cada artista recebido um cachê de 1500€ (incluindo a taxa de IVA em vigor, se aplicável, e demais encargos), e uma bolsa de produção de até 1000€. Foi também contemplado o apoio logístico que inclui alojamento, alimentação e transporte.

A Comissão de Apreciação do "9 x 9 - Artistas são Ilhas, Ilhas são Artistas" é constituída por João Mourão e Sofia Botelho (pelo Arquipélago - Centro de Artes Contemporâneas), Alexandre Pascoal (membro do Conselho Consultivo do Azores 2027) e por António José Silva e Mónica Benevides (elementos da Part’ilha - Associação Cultural de Desenvolvimento Local).

Os critérios de avaliação foram a fundamentação e originalidade do projeto de residência artística (40%), a consonância com os objetivos do programa 9 x 9 (15%), a adequação do projeto de residência artística à ilha (15%), atividades de partilha e desenvolvimento de públicos durante a residência artística (10%) e a biografia e a experiência anterior do artista (20%).

Saliente-se que este programa de residências artísticas conta com o apoio de vários agentes e instituições de todo o arquipélago e com o apoio dos municípios das nove ilhas dos Açores.

O projeto de residência selecionado para a ilha das Flores é da autoria de Vasili Andreyev“América na Europa, Europa na América - Exploração fotográfica de uma das histórias da Ilha das Flores”. Natural da Bielorrússia a viver na ilha Terceira desde 2017, Vasili apresenta como ponto de partida para o seu trabalho a história verídica de 17 florentinos que, em 1919, enviaram uma carta ao então Secretário de Estado dos E.U.A., Robert Lansing, a propor a ocupação da ilha das Flores pelos americanos. O artista propõe analisar as histórias pessoais dos herdeiros destas 17 pessoas e responder à pergunta “o que é a ilha das Flores para eles hoje: é a Europa na América ou é América na Europa?”. O projeto vai materializar-se num livro de fotografias e histórias.

A artista Berta Teixeira desenvolveu o projeto “Número Nove / 9X9 = 81 / 8+1= 9” na ilha de São Miguel. Inspirada na epístola de Simão Gonçalves Toco, o líder religioso e nacionalista angolano deportado pelas autoridades coloniais portuguesas do Farol da Ponta Albina, Namibe, em Angola, para o Farol da Ferraria, em São Miguel, a artista fez uma Carta-Performance “com forte componente visual e narrativa adequada também a um público invisual e destinada ao mundo”, focada na Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável (2021-2030).

A proposta de residência selecionada para a ilha do Corvo é da artista luso-taiwanesa Ching-Yu Cheng"'Google Street View' sobre rodas, a instalação artística móvel que documenta a paisagem dos habitantes do Corvo”. Quando a artista pesquisou a ilha do Corvo na ferramenta de mapas da Google descobriu que não existia a função de ‘Street View’ (representação virtual de lugares composta por imagens panorâmicas) e teve a ideia de criar uma instalação de arte móvel que funcionasse como dispositivo mímico da 'Google Street View'. A instalação, que percorreu as ruas da vila do Corvo, foi a forma de a artista se relacionar com a comunidade local, levando a arte à rua de forma “completa e física”. O resultado final revelou “uma paisagem única no Corvo, do ponto de vista cultural e humano, ao invés de produzir a 'Street View' da Google”. A artista propõe, ainda, que o dispositivo móvel funcione como uma banca de comida taiwanesa, promovendo a interculturalidade.

“Embarcações de Terra — Amarrações ao Mar” é o projeto de residência artística que decorreu em Santa Maria. Mariana Sales Teixeira (Açores) propõe “revolver as artes e artesanias tradicionalmente domésticas com as náuticas num projeto colaborativo e participativo com a comunidade local”. Depois de recolhido material têxtil que as pessoas da ilha doaram ou trocaram (lençóis, toalhas, cortinas), a artista fez uma recolha junto da comunidade piscatória e artesã de diferentes tipos de nós, amarras, laços, pontos em técnicas variadas, fazendo uso do material têxtil doado. Com esses materiais, foi criada uma peça escultórica têxtil em colaboração com a comunidade.

“Old World – Terceira” da autoria da artista Margarida Correia foi a proposta de residência selecionada para a Terceira e consiste num projeto fotográfico com a comunidade luso-americana da ilha. A artista fez retratos em ambiente doméstico, pesquisou imagens de arquivo pessoal e a recolheu histórias para construir novas narrativas.

“9 dias. 9 canções”, de Elina Stolde, artista da Letónia a viver no Porto, foi o projeto selecionado para a ilha de São Jorge e consiste na criação de nove canções com raízes na música tradicional açoriana, envolvendo grupos folclóricos jorgenses. Foi, também, realizado um workshop de música tradicional letã.

“cartas de um vulcão para o mundo”, da escritora Judite Canha Fernandes (Açores), foi o projeto selecionado para a ilha do Faial para “falar de voz e providenciar experiências literárias de narração na primeira pessoa, aproveitando o mote de uma residência na casa onde viveu o primeiro Presidente da República Portuguesa”. O projeto teve, ainda, a realização de uma palestra e de uma oficina de escrita. Os textos que resultaram da residência artística da escritora foram enviados, em forma de carta, aos residentes da ilha do Faial.

O projeto do artista Miguel Maduro-Dias, natural de Angra do Heroísmo, “A água que temos e a água que nos falta”, foi o escolhido para decorrer na ilha Graciosa. Inspirado pelo tema da água, Miguel propõe um projeto musical envolvendo coros, filarmónicas, escolas, artistas e a comunidade graciosense, com a realização de um workshop coral e vocal.

O projeto “boca do caminho”, da artista Lula Pena (Lisboa), foi implementado na ilha do Pico e consiste “na elaboração de uma escrita, seja ela em texto ou imagem e em registos sonoros de conversas informais ou estruturadas com a comunidade local, assim como a captação de sons de campo, sejam de lavoura ou de lazer, ou simplesmente do quotidiano pessoal da comunidade”, tendo como objetivo a composição de uma peça de arte radiofónica.