Bilharacos à moda da Tia Glorinda

Marisa Fagundes Pereira
#Especial da casa


Pastéis de Abóbora, à moda antiga

Desafiada pela Margarida Sodré a apresentar uma receita para a rubrica 'Especial da Casa', e nos encontrarmos em pleno outono, em tempo de abóboras por excelência, nada melhor do que uma receita que as incorporasse. 

A abóbora, a par da batata, tem sido base da alimentação açoriana, desde sempre, em especial nos meios rurais, onde é possível avistar bonitas caseiras e os seus frutos (abóboras) em crescimento, no verão, por entre outras culturas, como o milho. Depois é vê-las por cima de muros, terraços e paredes, ao sol, de várias espécies, tamanhos e feitios. Sendo as mais comuns, nos Açores, a abóbora-menina, a abóbora-manteiga, a moganga, a aboborinha e a gila.

Com comprovados benefícios para a saúde humana, é utilizada em sopas, como acompanhamento (cozida, assada, em purés…) e em sobremesas – tartes, papas, sonhos e pastéis. 

Em férias, nas Flores, em casa de meus avós maternos, se não havia almoço destinado, e se perguntava o que era o almoço, dizia minha avó: "vai-se pôr a cozer uma batatinha e uma abóbora e logo se vê o que é o conduto."

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Mas é de sobremesas que vos venho falar. Os Pastéis de Abóbora, à moda antiga, muito saborosos, e transversais a todas as ilhas e continente português, por vezes com outras designações, como é o caso aqui tratado.

Não me recordo da primeira vez que os comi, talvez confecionados pela minha avó paterna, na Graciosa, Rosa de seu nome. Dos que me lembro, são dos de minha tia Glorinda, umas das irmãs de meu pai, que os apelidava de Bilharacos (por ser casada com um aveirense, onde os ditos pastéis assim se denominam). Embora emigrada na Califórnia, em tempo de férias retornava à Graciosa, onde se veio a estabelecer definitivamente, após enviuvar. A tia, pequenina como a minha avó, sofria de “bicho carpinteiro”, de maneira que não parava, entre a cozinha e a costura, um cafezinho e um cigarrinho, era um tal fazer “Pumpkin pies”, “Apple pies”, Bilharacos, Tortas para o lanche da praia, etc.  Pelo que, em nossa casa, os ditos Pastéis passaram a ser conhecidos por Bilharacos, continuando a ser muito apreciados na família, quer pelas minhas filhas e marido, quer pelos colegas e amigos que os vão provando.

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Bilharacos à moda da Tia Glorinda

Ingredientes:

500 g de abóbora
200 g de farinha de trigo
4 ovos
4 colheres de açúcar (facultativo / ao gosto)
1 colher de sobremesa de fermento 
1 pitada de canela
Óleo q.b. para fritar
Açúcar e canela para envolver

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Preparação:

1.    Comece por assar a abóbora, partida ao meio, sem as pevides e fibras. (Usei abóbora-manteiga, mas pode ser outra qualquer, esta torna-se mais fácil de limpar as pevides e de retirar a casca, o facto de ser assada, e não cozida, resulta num puré mais consistente e menos aguado, por conseguinte, mais saboroso).

2.    Rape, com uma colher, o puré de abóbora para uma tigela, bata-o, com a ajuda de uma colher, um fouet ou de batedeira.

3.    Junte os ovos e o açúcar, envolva.

4.    Junte a farinha peneirada e o fermento e a pitada de canela.

5.    Aqueça o óleo, e depois, em lume médio, com uma colher de sopa, vá despejando colheradas de massa. Deixe fritar até dourar, com a ajuda de 2 garfos vire os pastéis para que fritem do outro lado.

6.    Disponha-os em papel absorvente para retirar o excesso de óleo.

7.    Envolva-os na mistura de açúcar e canela e disponha-os num prato de servir à mesa.

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Esta receita rendeu três dúzias de pastéis.

(Dica: para um aporte menos calórico, esta massa pode ir ao forno, a assar num tabuleiro, devidamente untado e enfarinhado, ou forrado com papel vegetal, polvilhada com açúcar e canela, cortando-se, depois de arrefecida, em quadradinhos, que também ficam muito saborosos).

Acompanhe com um café e uma Angelica da Graciosa e bom proveito! Pessoalmente, gosto mais deles no dia seguinte, já encharcadinhos do açúcar e canela em calda.

Como nada se perde e tudo se transforma, se não precisar de voltar a semear, aproveite as sementes que retirou da abóbora, lave-as, retirando todas as fibras da polpa, e seque-as bem, tempere-as com sal, paprika fumada, cominhos, ervas aromáticas, flocos de pimenta, um fio de azeite (pode usar outros temperos a gosto) e leve-as a assar a 180º por 15 minutos.

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Marisa Fagundes Pereira, 50 anos, nascida e criada em Santa Cruz da Graciosa, reside em Ponta Delgada, é economista, esposa e mãe. Desempenha funções de auditoria na Secção Regional dos Açores do Tribunal de Contas. Gosta mais de comer do que cozinhar. Gosta de tudo o que se relacione com decoração, em especial de decorar mesas de refeição para receber a família e amigos.