Carlota da Silva

#Natureza humana

Ilha de onde é natural ou onde reside
Ilha Terceira 


Profissão
Assessora de Imprensa do TERINOV - Parque de Ciência e Tecnologia da ilha Terceira 


Faz – ou fez – parte de alguma associação, coletividade, banda filarmónica, etc.? O que a levou a envolver-se?
Quando era mais nova, devia ter entre 7-10 anos, fiz parte do grupo de teatro Alpendre. Entretanto, mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, e entre a mudança da professora de teatro, o basquete e a natação, desliguei-me do teatro. Certo é que não me envolvi mais em associações de natureza cultural, apesar de ser uma espectadora assídua das várias atividades culturais que vão acontecendo a nível local, regional e nacional. Envolvi-me na candidatura de Ponta Delgada a Capital Europeia da Cultura no seguimento de um convite que me foi endereçado pela equipa de gestão deste projeto, que acredito que constitua uma oportunidade única de divulgar e elevar a cultura dos Açores a nível mundial. 


Qual a sua memória preferida ligada a um evento cultural em que tenha participado/a que tenha assistido? Porquê? 
A melhor memória que tenho ligada a um evento cultural é a sensação sentida quando terminava uma peça de teatro. No final do espetáculo, os meus pais costumavam dizer que até a minha voz ficava diferente. Eramos uns quantos no grupo, com idades entre os 6 e os 40-50 anos. Hoje, quando recordo esses momentos, penso que essa pluralidade de idades permitia uma troca de experiências e de vivências muito interessante, que me marca até aos dias presentes. 

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Sente-se ligada à cultura nos Açores? De que forma? 
Sinto-me ligada à cultura dos Açores, desde logo, porque sou assessora de imprensa do TERINOV e, uma das três áreas estratégicas do Parque são as Indústrias Culturais e Criativas. Este facto por si só faz com que, diariamente, me sinta parte integrante deste setor, uma vez que sou responsável por comunicar à sociedade em geral os principais serviços e atividades dinamizadas por entidades ligadas ao ecossistema cultural da região. Por outro lado, a ligação a este setor também acontece naturalmente num arquipélago como os Açores e numa ilha como a Terceira, que é conhecida por ser o parque de diversões da Região, e em que essa diversão passa sobretudo pela dinamização constante de atividades culturais, desde espetáculos de música, peças de teatro, cinema e festas tradicionais que acontecem ao longo do ano em toda a ilha. 


Considera a cultura importante para a Região? Porquê?
A cultura é indiscutivelmente importante para os Açores, como para outra qualquer região do mundo, desde logo por se apresentar como elemento principal na constituição da identidade de uma comunidade, seja ela local ou global, pois é através da cultura que ganhamos sentido de pertença, a designada «identidade comunitária». 
No caso particular dos Açores, e sendo esta uma região insular, dispersa por nove ilhas, únicas a nível cultural, este setor pode desempenhar um papel extremamente importante, particularmente no que concerne ao desenvolvimento económico, social e humano do arquipélago, pois as atividades culturais mobilizam vastas cadeias produtivas e permitem impulsionar diversas áreas emergentes, com é o caso do Turismo, por exemplo e que é conhecida como uma das áreas prioritárias para o desenvolvimento da Região. Ao mesmo tempo, estudos comprovam que há uma relação direta entre Cultura e Desenvolvimento Local, como motor de alavancagem da economia e fonte de criação de emprego, por exemplo. 
Do ponto de vista social, é certo afirmar que a cultura nos Açores pode desempenhar um papel muito interessante, não apenas na reintegração de pessoas na sociedade, como também na atração de possíveis turistas e, mais importante do que isso, na fixação de residentes, uma vez que se prevê que os Açores enfrentem nos próximos anos grandes desafios a nível populacional, especificamente na fixação de "gentes" na região, e são os últimos Censos que dão conta dessa tendência, registando uma perda de cerca de 4% da população dos Açores no espaço de 10 anos, o que lhe atribui o quarto lugar do pódio das regiões do país com maiores perdas populacionais. Exemplos não faltariam para justificar a importância do investimento na cultura nos Açores, certo é que o setor precisa de ser interpretado como eixo prioritário do desenvolvimento da Região. 


Como vê o futuro da cultura na sua ilha e na Região? O que a faz ser otimista/pessimista?
Gostaria mais de imaginar o futuro da cultura nos Açores do que propriamente pensar como é que a Região estará realmente. Conforme fui afirmando ao longo desta entrevista, os Açores enfrentam atualmente grandes desafios ao nível económico e social, que acredito que o investimento na cultura seria um grande passo para reverter a tendência de, por exemplo, encontrarmos ilhas tendencialmente habitadas por população envelhecida. A par de todos os desafios que se impõem a uma região insular, dispersa por nove ilhas, cheia de constrangimentos impostos pela ultraperiferia de um arquipélago, acredito que o Azores 2027 é uma oportunidade de dar espaço a novas abordagens para o setor cultural da região e que, independentemente do resultado obtido nesta candidatura, já houve muito trabalho desenvolvido que não deve ser esquecido na gaveta, mas sim servir de mote à nova abordagem de cultura que os Açores merecem.