Daniela Ferreira da Silveira

#Natureza humana

Ilha de onde é natural ou onde reside
Natural ilha Terceira e de momento a residir na ilha do Pico 

Profissão
Gestora de projetos 

Faz – ou fez – parte de alguma associação, coletividade, banda filarmónica, etc? O que a levou a envolver-se?

Em 2012, organizei o meu primeiro evento cultural, o Projeto +Jazz, que, volvidos nove anos, é agora um festival internacional de jazz, o Festival +Jazz. Seguiram-se diversas colaborações com diversas entidades culturais públicas e privadas. Fui colaboradora da Associação Cultural Burra de Milho, do Cine-Clube da ilha Terceira, do Museu de Angra do Heroísmo, integrei a direção do Instituto Açoriano da Cultura e neste momento sou presidente da direção da GetArt - Associação Regional para a Promoção e Gestão Cultural.  
Depois de uma década a viver no Porto, regressei à ilha Terceira, e senti necessidade de contribuir ativamente na programação cultural da ilha, que, apesar de ser uma ilha com uma programação cultural rica, mas muito virada para as tradições, havia necessidade de apresentar algo alternativo e contemporâneo. 

Qual a sua memória preferida ligada a um evento cultural em que tenha participado/a que tenha assistido? Porquê?  

Uma das minhas memórias preferidas aconteceu em 2017, quando estava a navegar na internet e vi um trailer de um documentário que me interessava ver. O documentário chamava-se "Samba e Jazz", do realizador e fotógrafo brasileiro Jefferson Mello. Depois de muito procurar em lojas e páginas de download, não conseguia encontrar o filme. Fui às redes sociais procurar a página do documentário e do realizador e enviei mensagem para saber como poderia visualizar o documentário. Passadas umas semanas respondem-me que o filme estava a percorrer o circuito internacional de festivais de cinema e que tão cedo não havia data para entrar no circuito comercial. A minha vontade era tão grande de ver o filme que convidei o realizador a vir estrear o filme em Portugal, nos Açores, na ilha Terceira, no festival +Jazz. E aproveitamos a passagem e ainda o fomos apresentar ao Pico, ao festival Azores Fringe.  
E depois houve várias felizes coincidências. A primeira foi que, quando convidei o realizador para vir aos Açores, ele não sabia onde ficavam e quando cá chegou contou-me que a sua mãe, ao saber que ele vinha à ilha Terceira, contou-lhe a história que os seus avós maternos se haviam conhecido ou casado nesta ilha. De alguma forma, ele estava ligado a esta terra, sem nunca ter ouvido falar dela. E a outra feliz coincidência é que ele era um fotógrafo de topo no mundo da moda brasileira, já tinha fotografado a nata das maiores personalidades da música brasileira. Em conversa com ele, em minha casa, disse-lhe que era grande fã do Gabriel O Pensador, ele era amigo dele e ligou-lhe no WhatsApp. A diversidade cultural traz-nos este tipo de memórias e partilhas.

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Sente-se ligada à cultura nos Açores? De que forma?

Sim, sem dúvida de que estou e estarei ligada à cultura nos Açores. Tenho participado em diversos projetos culturais, de âmbito local, regional, nacional e europeu sempre em representação dos Açores. Com diversos públicos-alvo. Já fiz programas culturais para crianças, adolescentes, jovens adultos, e mais recentemente para seniores. É já uma década dedicada à cultura e muitos projetos que já saíram do papel e foram apresentados ao público. 

Considera a cultura importante para a Região? Porquê?

Diversos autores dizem que "um homem sem cultura é um homem sem história", ou que "um país sem cultura é um país sem educação''. A cultura é a base de uma sociedade, pois ela integra o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei e os costumes. E esse conhecimento é passado de geração em geração. No quotidiano das sociedades civilizadas, a cultura está associada à aquisição de conhecimentos e de práticas de vida reconhecidas como melhores e superiores. Não tenho a menor dúvida de que é uma área de extrema importância para qualquer região, mas para as ultraperiféricas representa uma maior importância.

Como vê o futuro da cultura na sua ilha e na Região? O que a faz ser otimista/pessimista?

Eu considero os agentes culturais, artistas e todas as profissões associadas à programação cultural pessoas extremamente resilientes, logo otimistas. Não estamos a passar uma boa fase devido ao contexto pandémico. Mas a falta de uma política cultural clara, com diretivas assertivas também não ajuda a esta situação já de si caótica. 
Há entidades públicas a trabalhar muito bem, com rigor e extrema qualidade. E também existem entidades privadas com criativos interessantes e singulares, a fazer coisas de grande valor cultural. O que de alguma forma dá uma certa esperança ao que nos reserva o futuro.

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