Quinta dos Marias

Cristina da Costa
#Especial da casa

O nome é inspirado nos teus filhos, três rapazes cujo segundo nome é Maria. O que te leva a criar este projeto da Quinta dos Marias?
Apesar de ser filha, neta, sobrinha, prima, amiga de gentes açorianas, sempre vivi em Lisboa e desde que me licenciei, em 2000, fui sempre muito feliz a trabalhar na capital como médica dentista. Já depois de casada e com os dois primeiros filhos nascidos, comecei a questionar se a vida que podia proporcionar às crianças não devia ser mais saudável e próxima da natureza. Casei com um homem que cresceu num meio rural, numa pequena vila no interior do país, e onde manteve as suas raízes. Acabámos por decidir fazer uma grande mudança e abraçar um novo desafio- viver no campo, numa quinta! A nova gestão do tempo e da vida familiar deu oportunidade ao aparecimento da Quinta dos Marias, que é uma quinta familiar com uma pequena produção agrícola. Este projeto nasce de uma enorme vontade de criar ligação entre pequenos produtores locais e uma produção própria de granolas saudáveis, compotas e marmeladas, onde privilegio a utilização de fruta da nossa produção.

Já o nome do projeto é, naturalmente, inspirado nos meus três filhos, que também foram o motivo do nome escolhido para a nossa quinta.

Acreditas, portanto, no glocal? Ou seja, no pensar global e agir localmente.
Claro que sim. Para mim faz todo o sentido promovermos o melhor que se faz localmente, tentando dar a visibilidade possível a pequenos produtores e empreendedores, criando oportunidade de negócio e tentando contribuir para a viabilidade financeira destes, que muitas vezes são detentores de produtos de uma qualidade elevadíssima, mas não atingem a justa valorização pela dificuldade que é quebrar os interesses económicos de quem manda e gere os mercados!

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Consideras que há um caminho a seguir ou que deverá haver uma transformação na forma como os portugueses e, em particular, os açorianos comem?
Tal como em muitos locais do interior de Portugal, também nos Açores existem produtos de qualidade inigualável, mais naturais e saudáveis, mas que por motivos de escala não conseguem ser competitivos no preço, o que dificulta a aproximação entre o produtor e o consumidor.

Também chamo a mim as dores dos pequenos produtores que enfrentam a dificuldade em competir com os preços mais baixos da industria que produz em grande escala e que muitas vezes nos esmagam tabelando o seu produto em valores que nem sequer dá para produzir quanto mais criar um negócio. Procuro colocar o meu diferencial noutros critérios e penso que esse também deve ser o sentido em que nas ilhas devem investir: pela qualidade, pela seleção criteriosa dos produtos, pela relação de proximidade com o consumidor/cliente, na forma de comunicar os valores, apostando sobretudo numa alimentação mais saudável e mais próxima da natureza.

Entendo, assim, existir a enorme necessidade de sensibilizar as pessoas para que consumam menos (quantidade) e melhor (qualidade). Um exercício nem sempre fácil, sobretudo para nós portugueses que de uma forma geral relacionamos o prazer da comida à quantidade e nem tanto à qualidade.

Felizmente, comer bem e comprar “alimentos de verdade", recusando o processado, está na moda! As pessoas estão cada vez mais sensíveis não só ao que comem mas também à cadeia de produção e às implicações ambientais que cada escolha acarreta!

Aqui precisamos muito da intervenção dos nossos dirigentes políticos para que se promova a valorização do produto das pequenas cadeias, de práticas mais sustentáveis e saudáveis.

É urgente pensar-se em estratégias de apoio ao consumo saudável.

Neste tema, penso que os Açores podem funcionar, se devidamente aplicado, como um modelo a todo o território nacional. Uma região tão rica em produtos de excelência, como a carne, os laticínios, o peixe, a fruta e os hortícolas, deve privilegiar o produto e o produtor local, aportando nomeadamente um excelente exemplo da valorização das cadeias curtas (fundamentais para a diminuição do impacto ambiental do nosso consumo) num território onde a natureza é uma das suas moedas de maior valor!

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Qual a tua refeição preferida? E porquê?
Não me obriguem a escolher uma refeição!

Para além de ser uma ótima boca, que gosta de praticamente tudo, e que valoriza imenso o tempo de estar à mesa com a família, aprecio tanto uma refeição tradicional como uma refeição completamente arrojada e até improvisada.

Cozinhar para mim é intuição, amor…um espaço de criatividade e também de regressar às receitas da família.

Adoro pratos cheios de legumes salteados, estufados ou cozidos, saladas coloridas com frutas da época e com frutos secos e granola.

Sou sopeira e nem o calor do verão me tira a vontade de uma boa taça de sopa.

Durante a semana nem sempre é fácil ter tempo para almoçar e nessas alturas uma boa sopa, uma salada fresca e colorida com um topping de granola, é muitas vezes a minha salvação!

Aos fins de semana e sempre que estamos com a família gosto de refeições demoradas que acompanham conversas e nos ajudam a construir memórias! Feijoada servida com morcela e chicharrinhos fritos com molho de vilão são apenas dois exemplos.

Sou igualmente gulosa e por isso adoro sobremesas, mas tenho cada vez mais cuidado em criar opções mais saudáveis e menos calóricas. Aqui invento imenso e dou espaço para as minhas granolas brilharem. Desde crumbles, cheesecakes até simples copinhos de pudim de chia com fruta e granola, a imaginação é o limite.

Por isso é com igual prazer que habitualmente preparo os pequenos-almoços. Tanto como uma sopa com granola salgada logo de manhã, como uma taça colorida de iogurte, fruta e uma qualquer das nossas granolas (as tão na moda smoothies bowls) ou uma caneca de café com leite e umas torradas…a regra é não haver regra!

Partilhas uma das tuas receitas preferidas, daquelas que fazem sonhar pela refeição seguinte? 
Como não é nada fácil escolher uma receita de entre tantas que eu verdadeiramente adoro, vou optar por selecionar duas sugestões. Uma baseada nesta lógica que eu promovo não só de uma alimentação mais saudável e mais natural, mas onde privilegio também o combate ao desperdício e uma outra super obrigatória e cheia de pecados, mas que por todo o resultado estético e experiência vivida pelas nossas papilas gustativas vale cada “ai" (ai a balança, ai a barriguinha, ai que me desgraço!)

SMOOTHIE BOWL– É um batido de frutas com iogurte/bebida vegetal servido numa taça onde o ingrediente principal e obrigatório é a banana congelada. Como temos sempre bananas, elas amadurecem muito rapidamente e os miúdos quando as vêm já muito maduras, ou com pintas pretas, torcem o nariz: a resposta é congelador!

Comecem a ter o hábito de descascar e congelar estas bananas e depois é só misturarem com o iogurte que mais gostam e aromatizar com a fruta que querem destacar, seja pela cor ou pelo sabor, e terão um magnífico e ultra saudável batido gelado numa taça. A partir daqui é colocar a criatividade ao vosso serviço e fazerem todo o tipo de toppings que vos ofereçam uma refeição não só saudável e ultra saborosa, mas que seja simultaneamente uma refeição bonita, cheia de pinta e cheia de tudo o que queremos para um dia feliz e de boa energia: vitaminas, proteínas, gorduras boas.

Receita:

– 1 banana congelada;

– 1 pêssego descascado e cortado aos pedaços;

– 200 ml iogurte ou bebida vegetal;

–  granola: Seleção Quinta dos Marias (ou outra da vossa preferência).

Preparação:

Triturar tudo num processador de cozinha, exceto a granola (reservar também alguma fruta para decorar). Colocar o preparado numa taça e fazer o topping com a granola escolhida. No fim, podem ainda decorar com mais futas, com flores comestíveis ou ainda com um fio de chocolate derretido ou de uma manteiga de frutos secos, como por exemplo a manteiga de amendoim.

Aqui a imaginação é mesmo o limite!



CHEESECAKE DE GRANOLA DE CHOCOLATE

Comecei por fazer a base com a nossa versão vegan *GRANOLA LARANJA E CHOCOLATE. No robô de cozinha triturei muito ligeiramente a nossa granola, para partir um pouco os frutos secos e as sementes. Depois, passei a granola para uma tarteira e amassei-a com manteiga que estava à temperatura ambiente. Calquei-a muito bem para obter uma base bem firme.

Levei ao forno durante 10 minutos a 190°. Retirei e deixei arrefecer completamente.

Entretanto fiz o creme: na batedeira bati as natas em chantili e depois incorporei o queijo creme e o leite condensado de coco.

As folhas de gelatina desfiz conforme as instruções da embalagem e adicionei ao creme anterior.

Quando a base já não estava quente, cobri com o creme preparado.

Coloquei no frigorífico durante cinco horas, até ter ficado completamente solidificado.

Antes de desenformar, usei manteiga de amendoim e uns pedacinhos da granola triturada para fazer a cobertura.

Por fim desenformei e só não vos digo o que sobrou daquele cheesecake todo porque reconheço que devem existir limites, mas prometo que durante a próxima semana detoxes aqui para toda a malta!

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A quinta dos Marias começou com as granolas e, neste momento, já conta com uma série de outros produtos que são compatíveis com o quotidiano até dos mais acelerados. Onde se podem encomendar essas iguarias criadas por ti?
Através da nossa loja online, no site da Quinta dos Marias, e com todos os nossos parceiros em Braga, Leiria, Abrantes, Sardoal, Santarém e no Montijo.

Para além da criação das nossas granolas, estou sempre focada na elaboração de receitas mais saudáveis e com uma seleção criteriosa de cada ingrediente, também crio presentes personalizados, onde ofereço a possibilidade de os meus clientes fazerem parte da decisão não só do conteúdo dos cabazes mas também da decoração dos seus presentes! Os materiais utilizados são o mais naturais possível: caixas de madeira (feitas por nós) e sacos de juta decorados com cordões de algodão, plantas naturais da época, etc.


Cristina da Costa (1975, Lisboa), médica dentista, empreendedora e de espírito irrequieto. Adora estar e receber a família e os amigos, sendo a mesa um distribuidor de conversas e da partilha de histórias! É na natureza que cada vez mais busca a sua identidade!

Podem saber mais sobre a Quinta dos Marias aqui.