Susana Cordeiro

#Natureza humana

Ilha de onde é natural ou onde reside
Sou natural de S. Miguel, Ponta Delgada, mas agora vivo na cidade do Porto

Profissão
Violetista – Professora de Viola d’Arco no Conservatório de Música do Porto

Faz – ou fez – parte de alguma associação, coletividade, banda filarmónica, etc? O que a levou a envolver-se?
•    Orquestra Filarmonia das Beiras, sediada em Aveiro;
entre 1998 e 2007 fui músico profissional desta orquestra, selecionada através de provas públicas
•    Momentos Oblíquos – Associação, associação sem fins lucrativos de âmbito cultural, sediada no Porto, que incorpora a Camerata Nov’Arte, um agrupamento instrumental de câmara que se dedica à promoção da música portuguesa, entre outros objetivos;
integro os corpos sociais da associação, asseguro a coordenação de produção do grupo e também participo como violetista em concertos da Camerata Nov’Arte
•    Associação Portuguesa da Viola d’Arco; integro igualmente os corpos sociais da associação e colaboro com várias iniciativas culturais e pedagógicas de promoção do instrumento.

Qual a sua memória preferida ligada a um evento cultural em que tenha participado/ a que tenha assistido? Porquê?
Fui música de orquestra durante vários anos. A Orquestra Filarmonia das Beiras foi a Orquestra onde trabalhei regularmente como profissional mais tempo. No entanto, por vários motivos de índole pessoal, deixei a orquestra para me dedicar profissionalmente ao ensino, continuando a tocar viola como “freelancer”.
Nessa parte da minha vida como violetista tive muitos momentos marcantes: maestros fabulosos, solistas extraordinários e a possibilidade de fazer parte da interpretação das grandes obras da História da Música. Relembro ainda, com emoção, a subida ao palco com nomes icónicos da minha juventude, como os “Xutos e Pontapés” ou os “Ala dos Namorados”.
Mas o meu destaque vai para a concretização de um projeto do qual faço parte desde o início, e que tem por princípio uma abordagem diferente à música orquestral ou à execução de obras de compositores da atualidade.
Ver nascer e crescer a Camerata Nov’Arte (que comemora, precisamente em 2021, o seu 10.º aniversário) e ter feito parte dela desde o primeiro momento, não só como música, mas também como organizadora, foi das melhores experiências que se pude vivenciar. Recordo com especial carinho o nosso concerto inaugural, em 2011, interpretando a Canção da Terra [Das Lied von der Erde], porventura a obra seminal de Gustav Mahler, na versão de Glen Cortese para pequena orquestra (numa estreia absoluta dessa versão em Portugal), como um momento inesquecível da minha carreira artística. É um privilégio ver um projeto nosso nascer e ganhar asas!

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Sente-se ligada à cultura nos Açores? De que forma?
Em primeiro lugar, toda a minha educação até ao 12.º ano foi feita nos Açores, segundo as tradições da região. O meu pai, Carlos Cordeiro, foi Professor na Universidade dos Açores, e tendo sido igualmente um reconhecido historiador, transmitiu-me desde cedo a cultura e identidade açoriana.
Na parte musical, a minha formação foi iniciada no Conservatório Regional de Ponta Delgada desde os 6 anos, onde cresci e conheci músicos e professores extraordinários que me ensinaram e influenciaram a gostar da vertente mais erudita da cultura, também açoriana. 

Entretanto, e porque tive de sair da ilha para prosseguir estudos superiores, acabei por instalar-me no Porto como professora e também familiarmente. Mas continuo a ser frequentemente solicitada para tocar com a Orquestra Sinfonietta de Ponta Delgada em concertos, o que muito me alegra. É com um orgulho imenso que colaboro nessa orquestra construída de raiz, com e por músicos açorianos, a maioria pertencente à minha geração e vários dos quais amigos e antigos colegas do Conservatório.


Considera a cultura importante para a Região? Porquê?
A importância da cultura estabelecida e das nossas raízes constitui um legado que não deve ser perdido. Mas não nos podemos deixar acomodar, permanentemente, sob esse manto reconfortante das tradições. Devemos manter um olhar crítico para o presente e para o futuro. A Cultura é feita de pessoas e para as pessoas, seja com artistas açorianos, nacionais ou estrangeiros. Não deve haver barreiras, mesmo temporais, pois a arte mais erudita, ou mesmo a criação contemporânea, são essenciais à vitalidade cultural de uma nação. A transmissão do conhecimento, quer do passado como do presente, faz-nos progredir, contemplar, pensar, fazer escolhas, e principalmente, sentir.


Como vê o futuro da cultura na sua ilha e na Região? O que a faz ser otimista/pessimista?
Tenho assistido com agrado a uma forte presença de jovens adultos bastante empenhados no desenvolvimento cultural dos Açores. Alegra-me perceber que há uma visão mais “aberta”, feita para todos e não só para as elites, ou para os emigrantes, numa certa mensagem saudosista que me habituei a ouvir. Mas, na minha opinião, os decisores políticos e os agentes culturais, devem fazer um estudo de campo mais apurado e diversificado.
A programação cultural não tem de ser só com artistas açorianos, mas sinto e noto que a mentalidade “o que vem de fora é que é bom” ainda permanece em alguns circuitos, o que não é razoável nem desejável para o nosso panorama cultural.