Vamos desopilar pelas Terras do Priolo

Azucena de la Cruz
#Vamos desopilar

As Terras do Priolo são lar de uma ave única no mundo e são também o meu lar há 16 anos. Conhecidas como a décima ilha, são um território em que a vida rural e a força da natureza se juntam criando paisagens naturais e humanas únicas. 

Começamos pelas Furnas. Para além da paisagem vulcânica, encontramos microrganismos capazes de viver em condições extremas que podem descobrir-se no Observatório Microbiano dos Açores. E é claro que não se pode passar nas Furnas sem tomar um banho na água aquecida naturalmente ou desfrutar dos jardins botânicos, também refúgio do morcego-dos-açores, único mamífero endémico dos Açores.

Descemos até a Ribeira Quente e na praia do Fogo sentimos e a força do vulcão ao enterrar o pé na areia dentro da água. Mas, para mim, a zona mais interessante é o porto. Aqui pode sentir-se o seu caráter de vila piscatória, seja dia de faina, de preparar as artes ou de descansar até o mar permitir voltar. 

Na Povoação, encontramos a primeira igreja de São Miguel, a Matriz Velha e, mesmo ao lado, no Posto de Turismo, uma exposição etnográfica. Saindo da Povoação em direção ao Faial-da-Terra, paramos no miradouro do Pico Longo. Para além da bela vista das sete lombas, guarda uma surpresa para quem se coloque na pedra central do mesmo e fale…

O Faial-da-Terra é conhecido como o presépio da ilha e faz jus ao nome. Aqui, poderíamos ficar um dia inteiro ou mais, aproveitando os percursos pedestres e a sua zona balnear, antigo porto de baleação, mas vamos continuar até uma freguesia muito pouco visitada, mas com muito encanto – Água Retorta. Podemos descer até a Fajã do Calhau, cujas casas apenas eram ocupadas durante a vindima. Continuamos contornando já o extremo este da ilha, com vários miradouros com incríveis vistas para o mar e acessos sinuosos e inclinados até à praia de Lombo Gordo ou à Fajã do Araújo. 


Noite desde a Boca da Ribeira
© Joaquim Teodósio
Lombo Gordo
© Joaquim Teodósio
Nordeste em festa
© Azucena de la Cruz
Graminhais
© Azucena de la Cruz
Farol de Arnel
© Azucena de la Cruz


Assim, chegaremos à Pedreira, já no Nordeste. Aqui, não posso deixar de referir à visita ao Centro Ambiental do Priolo na R.F.R da Cancela do Cinzeiro, para conhecer mais sobre esta ave única que já foi o pássaro mais ameaçado da Europa. Desde o centro é possível visitar o Parque de Endémicas, uma amostra do que era a floresta original dos Açores – a Floresta Laurissilva, e talvez até ver um priolo. Se este é o objetivo, podemos subir ao Pico de Bartolomeu ou percorrer a Estrada da Tronqueira adentrando-nos na área protegida, onde podemos ver também as ações de restauro ecológico desenvolvidas para recuperar esta ave.

Na Vila de Nordeste, podemos visitar o Farol de Arnel, o mais antigo dos Açores, e o portinho. A descida a pé é íngreme, mas merece sem dúvida o esforço. Passeando pela Vila, podemos desfrutar da sua arquitetura e, de saída, visitar as piscinas da Boca da Ribeira, onde é possível ouvir os cagarros a regressar aos ninhos com aquele som que é a banda sonora do verão nos Açores.

Desde aqui, continuamos pela estrada regional, atravessando devagar freguesias e ribeiras num ziguezague continuo. Na Lomba da Fazenda, merece a visita o miradouro do Pelado, com vegetação costeira nativa, e a padaria com o melhor pão dos Açores. São Pedro tem, na minha opinião, a igreja mais bonita do concelho. Santo António e Algarvia dão acesso a pé ao Pico da Vara, ponto mais alto da ilha e que, sem dúvida, merece ser descoberto e, desde a Achada, podemos aceder ao Planalto dos Graminhais, uma extensa turfeira recuperada que dá acesso ao Pico da Vara. Mas também podemos descobrir a pé a zona costeira, com destaque para os trilhos do Salto da Farinha e Lomba d’El Rei entre a Salga, Achadinha e Achada, como o famoso Poço Azul.

As Terras do Priolo são um território para descobrir devagar, deixando tempo para desfrutar do silencio e da natureza e também para descobrir as suas gentes e o seu modo de vida.



Terra Nostra
© Azucena de la Cruz
Porto do Nordeste
© Azucena de la Cruz
Graminhais
© Azucena de la Cruz
Casal priolo
© Daniel Jareño
Lombo Gordo
© Joaquim Teodósio
Morcegos Terra Nostra
© Joaquim Teodósio
Nascer do sol Nordeste
© Joaquim Teodósio
Pico da Vara
© Joaquim Teodósio
Requalificação do trilho nas turfeiras Graminhais
© Joaquim Teodósio
Trilho Graminhais
© Joaquim Teodósio
Trilho Graminhais
© Joaquim Teodósio
Igreja de São Pedro
© CETS Terras do Priolo

Azucena de la Cruz, nordestense nascida em Madrid, em 1982. Estudou Ciências do Ambiente e trabalha na Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves em vários projetos de conservação das aves e os seus habitats nos Açores.