Vamos desopilar: Santa Maria

Roberto Moura
#Vamos desopilar

Um dia na ilha do Sol, para mim, terá de começar inegavelmente a vê-lo nascer no Atlântico, desde a Baía de São Lourenço – sítio de onde já o meu pai contava histórias dos anos 70/80 e do quão bonitas eram as manhãs ali, especialmente depois de uma noite de fogueiras na praia ainda antes da iluminação pública lá ter chegado.

Mergulhar, assim que sentirem o calor na cara, e depois desfrutar da paisagem da encosta desenhada com currais de vinha, com paragem obrigatória junto ao farolim, no miradouro de onde se avista o ilhéu do Romeiro e onde podem aproveitar para tomar o pequeno-almoço no parque de merendas ali existente.

Depois de São Lourenço, é seguir as placas até ao centro de Santo Espírito, adoçar a boca na Cooperativa de Artesanato (os biscoitos de orelha são os meus favoritos) e seguir depois caminho em direção à Maia – terra do farol mais bonito que conheço. Saltar para as águas cristalinas da Baixa do Coelho é um prazer que confesso que só há poucos anos realizei (marienses a ler isto – por favor não sejam como eu!)

No final da estrada da Maia, à esquerda, encontram uma das mais altas e bonitas cascatas do país com aproximadamente 100m de altura. Aqui podem parar e tirar da mochila o farnel para almoçar à beira da cascata (Ah, acho que não vos disse, mas esta aventura de um dia baseia-se num “hop-on, hop-off" muito rápido pelos pontos que vos menciono da ilha com comida na mochila).

Cascata do Aveiro, Lugar da Maia
Cascata do Aveiro, Lugar da Maia

Depois do almoço, é hora de seguir caminho (pela mesma e única estrada de acesso à Baía da Maia) com um desvio em direção à Praia Formosa via Panasco (Costa Sul), onde aconselho [se a estrada estiver em condições] seguir de carro ou de mota pelo acesso da Calçada do Gigante: no final da estrada de acesso é só uma pequena caminhada de cinco minutos até a um dos marcos geológicos mais bonitos da ilha, onde se pode fazer rapel, slide e até canyoning no inverno. Aqui, poderiam continuar por um fantástico trilho até ao Forte de São Brás, em Vila do Porto – mas para quem se aventurar neste roteiro de um dia, terá que agendar isto para uma maior estada na ilha.

De volta à estrada regional, podem seguir caminho até à Praia Formosa – aqui, tal como em São Lourenço, há mais do que uma praia de areia branca com o mar à temperatura perfeita, e até com um barco afundado a poucos metros do areal. É também a baía do mais antigo festival de música em continuidade no país – a Maré de Agosto. Mas o maior segredo e que nunca vos devia contar é que a melhor praia desta zona é na verdade de acesso por um (ou mais) trilhos. Ups... mas não faz mal, deixo-vos preparar essa caminhada numa próxima visita.

Seguindo viagem, sempre a passo acelerado, é claro – é hora de cortar caminho pelo centro de Almagreira até São Pedro – onde encontrarão a Estrada dos Piquinhos. Aqui, podem ir em direção à estrada do Paúl e ver do vosso lado direito uma prova de que nós aqui temos a cabeça na lua... e no mar... e em tantas outras descobertas científicas. A Raege é uma estação geodésica e espacial instalada há alguns anos na ilha.

Baía dos Anjos
Baía dos Anjos

Seguindo pela estrada do Paúl, vamos em direção ao Barreiro da Faneca. É o deserto vermelho mais conhecido dos Açores. Em tempos já foi mais deserto – hoje a vegetação toma naturalmente conta de uma parte do terreno, mas podem-se sentir marcianos por uns minutos. No Barreiro da Faneca podem fazer uma caminhada de cerca de 40 minutos (ida e volta a passo acelerado) até ao mar, na zona do “Pinheiro” – de onde se avista o ilhéu das Lagoinhas e a Baia da Cré.

Quando regressarem à estrada regional pelo mesmo caminho vão encontrar também (se vos passou despercebido) o grande polo da Edisoft, onde para quem é curioso da ciência e tecnologia poderão ver infraestruturas ligadas à ESA, IPMA e outras áreas.

Pela estrada regional marquem o vosso destino para a Baía dos Anjos. Uma bonita estrada de curvas e contracurvas com vistas dos campos secos na maior parte do ano, pois esta é a parte mais árida da ilha. Ao chegar lá baixo encontram uma estátua de Cristóvão Colombo e podem descobrir mais sobre isto e muitas lendas que se contam desta terra. Aqui, é também onde anualmente se realiza um festival de Blues que está já nos circuitos mundiais do género.

Ao pararem junto ao parque infantil, aconselho uma pequena caminhada depois do cais até à Furna de Santana – uma gruta que encontram à vossa esquerda, a cerca de 200m de onde os carros conseguem ir – mas não se demorem! O sol está quase a pôr-se e aqui é um dos sítios mais bonitos para vislumbrar o final do dia. 

Trajeto entre Almagreira e São Pedro, vislumbrando o Pico Alto à direita
Trajeto entre Almagreira e São Pedro, vislumbrando o Pico Alto à direita

Se o vosso regresso deste hipotético dia, que começou de madrugada, se faz de avião, mesmo que a luz do dia já seja pouca, façam uma passagem pela zona do Aeroporto. O Aeroporto tem uma História fascinante que a Associação LPAZ transformou num roteiro que eu nunca poderia aconselhar nesta pequena viagem de um dia que esbocei aqui, mas que aconselho vivamente. 

Com uma pequena, mas intensa passagem dos militares americanos que deixaram marcas culturais, sociais e físicas nesta ilha; com um aeroporto que já foi “palco” de escalas regulares do Concorde e de tantas outras ligações aéreas transatlânticas, deixo-vos seguir viagem, mas só com uma promessa: a de voltarem! Santa Maria tem muito para oferecer e é uma ilha que, apesar de ser a única dos Açores que não tem atividade vulcânica ativa, é sempre calorosa para receber quem quer conhecer as nossas tradições, as nossas gentes, as nossas paisagens únicas e as mil e uma histórias que temos e sempre teremos para contar.

Quonset Hut, na zona do Aeroporto: antiga estrutura militar utilizada pelos americanos. Ainda se podem ver algumas pelo roteiro do Aeroporto
Quonset Hut, na zona do Aeroporto: antiga estrutura militar utilizada pelos americanos. Ainda se podem ver algumas pelo roteiro do Aeroporto


Roberto Sousa Moura, 27 anos. Carteiro e fotógrafo nos tempos livres (Curso IPF Lisboa). Apaixonado pela terra onde cresceu e por tudo o que a faz mover-se: desporto, cultura e música na Ilha do Sol.
É o embaixador de Santa Maria do Azores 2027.