Amaya Sumpsi

#Human nature

Ilha de onde é natural e/ou onde reside
Eu sou de Madrid, mas sou filha adotiva dos Açores. Vivi em São Miguel três anos, depois mudei-me para Lisboa, mas grande parte do meu trabalho continua a desenvolver-se nos Açores, nomeadamente os meus filmes e as minhas teses de mestrado e doutoramento, ambas relacionadas com a natureza humana do mar. Também faço parte da equipa e da proposta de candidatura a património imaterial da UNESCO para as festas do Espírito Santo. E estou já a preparar um novo projeto de recolha de memórias relacionadas com o mar, em colaboração com os museus de todas as ilhas. Por isso, estou sempre a saltar entre o continente e as ilhas. 


Profissão
Antropóloga e realizadora


Faz – ou fez – parte de alguma associação, coletividade, banda filarmónica, etc.? O que a levou a envolver-se?
Trabalhei para a Criações Periféricas (incubadora cultural em São Miguel) e nos primeiros tempos do Arco 8.  Levei o FACA - festa de antropologia, Cinema e Artes -  às ilhas durante vários anos. Participei no movimento cívico por trás da candidatura 2027. Sempre que posso, envolvo-me em projetos que contribuam para promover diferentes manifestações culturais, e que estas cheguem a todos nos Açores. Da mesma maneira, sou consciente de que nós é que temos muito a aprender com as gentes - e a natureza - destas ilhas. Sei que os açorianos têm tanto para nos ensinar.


Qual a sua memória preferida ligada a um evento cultural em que tenha participado/ a que tenha assistido? Porquê?  
Que organizei: O festival de música de vinha d´areia (Vila Franca do Campo), em 2004 (se não me engano), com Diana Diegues. Montámos o palco mesmo na praia, convidámos imensos Dj's e músicos de fora, e a entrada era gratuita. E tudo sem marcas a patrocinar. Foi lindo. 
A que assisti: o Tremor, sempre. Pela sua dimensão familiar, e pela descoberta que proporciona. Adoro ir sem conhecer os nomes do cartaz e descobrir bandas maravilhosas nos sitios mais incriveis, sempre rodeada de uma grande familia de amigos. 

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Sente-se ligada à cultura nos Açores? De que forma?
Sim, de muitas maneiras diferentes. Como pessoa, a minha ligação com as ilhas é sobretudo emocional: é casa, é familia, é tudo. Como antropóloga e cineasta, as minhas etnografias e filmes procuram sempre tentar perceber o que é ser açoriano, perceber como convivem com a natureza, quais são os seus desejos e sonhos para o futuro, qual a sua herança, a sua posição no mundo, e como podemos aprender com eles. E tento que o meu trabalho leve os Açores pelo mundo, em festivais de cinema, congressos, encontros, debates. Ao mesmo tempo, tento participar e contribuir em projetos locais que possam traduzir-se numa abertura dos Açores para o mundo, como a candidatira 2027. Acredito na importância de trabalhar sobre os diálogos entre o local e o universal. 


Considera a cultura importante para a Região? Porquê?
Sem dúvida. A cultura é fundamental como diálogo entre as pessoas, e entre estas e a natureza que os rodeia. A cultura é um veiculo de autoconhecimento, de expressão e de diálogo com os outros. E numa região composta por nove ilhas bastante afastadas umas das outras, e todas elas do continente, a cultura ganha ainda um peso maior como elo de ligação ao mundo - natural e humano.


Como vê o futuro da cultura na sua ilha e na Região? O que a faz ser otimista/pessimista?
Bem, o bonito de tudo isto é que eu acho que já está a acontecer, já se sente muita coisa a fervilhar nas ilhas, uma outra abertura.  Pessoas que chegam de fora e que trazem com elas a sua bagagem cultural, que se organizam e criam eventos, que comunicam e colaboram com outros grupos, outras ilhas. Pessoas das ilhas que arriscam e acreditam na importância da cultura, que trabalham em redes e que procuram os seus proprios meios e caminhos para concretizar os seus projetos. Também vejo as ilhas mais pequenas com uma dinâmica cada vez maior, muito devido ao esforço e trabalho das próprias comunidades. Acredito na importância dos movimentos cívicos, muito mais do que no papel das instituições oficiais. A cultura que vem de baixo para cima, e não ao contrário. Sinto que as pessoas estão a deixar de ser ilhas para ser arquipélagos. É bonito, e sim, acho já está a acontecer :)