Antologia do traço

Teresa Canto Noronha
#what you want is talking

No passado dia 11 de novembro, foi inaugurada a exposição “de A a…”, de Teresa Canto Noronha, na galeria do Instituto Açoriano de Cultura. Teresa Canto Noronha nasceu em Ponta Delgada, a 20 de março de 1967. Estudou Engenharia Química, no Instituto Superior Técnico, em Lisboa, não concluiu a licenciatura. É jornalista, desde 1989. Primeiro na RTP e, desde 2003, na SIC, onde trabalha presentemente. A par do jornalismo, começou, em 2001, a trabalhar como artista plástica, tendo já realizado diversas exposições individuais e participado em várias coletivas.

Uma entrevista por Carla Ferreira. 


Quando começa a trabalhar como artista?
Comecei em 2001, quando vivia em Bruxelas.


Em que medida a sua experiência como jornalista se reflete na sua arte?
Não sei em que medida, exata. Mas sei que ser jornalista, e ser artista, me completam. Permitem-me exprimir-me e comunicar, como um todo.


O que é que a inspira a criar?
O que sinto. Não, apenas, emocionalmente. Mas, também, sensorialmente. 

Como definiria o seu trabalho?
Sou muito conceptual. Mas nem sempre de forma óbvia. Aliás, muitas vezes, ironizo usando o que é aparentemente obvio, ou simples, como representação de conceitos mais complexos.

Como é que cumpre o processo entre a criação das suas obras até ao instante em que se mostra ao olhar crítico do público?
Não crio a pensar no momento em que o meu trabalho vai estar sob o olhar do público. Mas tão pouco crio para guardar em casa, longe dos olhares dos outros. Questiono-me sobre o impacto que o meu trabalho pode causar nos outros e tenho curiosidade para saber como reagem.

Acha que perde um pouco de si sempre que vende uma obra?
Não, de todo. É um privilégio, para mim, que as pessoas queiram ter as minhas obras.


Costuma querer saber quem é que comprou ou qual o destino final da obra? Ou existe um desapego?
Sim, gosto de saber quem comprou, sempre que for possível. 


No ano de 2017 teve uma exposição no Palácio da Bolsa no Porto intitulada “A Falácia da Perfeição”. Quer falar-nos um pouco sobre essa experiência?
A exposição foi vista por milhares de pessoas porque são muitos os que, normalmente, visitam o Palácio da Bolsa. Deu-me uma ideia do quanto a arte pode chegar a tantos sem que a maior parte deles saiba, sequer, quem eu sou.
Nessa exposição, a minha primeira de desenhos, mostrei várias obras que pareciam simetrias perfeitas. Mas que, na verdade, estavam cheias de erros, propositados. O objetivo era demonstrar que é absurda a busca pela perfeição. Não só porque é impossível de alcançar. Mas, acima de tudo, porque é desnecessária. A beleza e a harmonia não precisam de ser perfeitas.


Que ocupações tem para além das artes plásticas e o jornalismo?
Gosto de viajar, de ler, de ouvir música, de estar com amigos, de caminhar, ver exposições.


Como vê o estado da cultura em Portugal?
Na “cultura” cabe tudo o que define um povo. Os povos, todos, aliás. E investir na educação é a melhor maneira de promover todas as formas de cultura. Independentemente do país. 


É fácil para um artista português ser reconhecido no estrangeiro? Porquê?
Não é fácil a nenhum artista ser reconhecido. Em nenhum país. É um trabalho árduo que, muitas vezes, também depende muito da sorte, das oportunidades e dos contactos.


Que exposições recomenda como “a não perder” neste momento em Portugal?
Em vez de indicar uma ou duas, o que gostava mesmo era que as pessoas fossem ver mais exposições. Que visitassem mais museus e galerias, e se deixassem envolver pelas emoções de um quadro, de uma escultura ou de uma instalação. Que sentissem, mesmo quando não conseguem compreender.