Casa dos Açores: Lisboa

Delfina Porto
#Human nature

Nome da Casa dos Açores/localização?
Casa dos Açores de Lisboa
Rua dos Navegantes, 17 a 21, 1200-729 Lisboa, desde 1970, depois de ter “habitado”, ao longo de 43 anos, diversos espaços da cidade. O edifício sede foi classificado como Imóvel de Interesse Municipal (CML, 2008).


Data da fundação?
27 de Março de 1927


Resumo da história da Casa?
Pode afirmar-se que foi há 140 anos que tudo começou, quando em Janeiro de 1881 um grupo de estudantes açorianos reuniu na Escola Politécnica e decidiu criar uma comissão insulana. Há registo de diversos movimentos e iniciativas que se tornaram marcantes, desde as reuniões nos chamados “cafés dos açorianos”, a outros encontros que além de açorianos reuniu também madeirenses. Quase sempre em momentos, ora de aflição, caso de sismos ou catástrofes (1881) ora de festa, como foi celebrar o início das obras dos cabos submarinos para os Açores (1887).

Em 1907 foi fundada a Sociedade de Estudos Açorianos com a ideia de um Grémio, iniciativa que foi retomada em 1908 e ainda em 1913. Dez anos mais tarde foram definidos “objectivos” para a Casa ou Clube açoriano. A designação foi oscilando ao sabor dos tempos, até que, em Novembro de 1925 teve lugar uma reunião destinada a uma “agremiação regional de açorianos”, a qual reuniu em assembleia na Sociedade de Geografia (10 Janeiro 1926) e começou a preparar os “estatutos”. Em assembleia geral (AG) de 27 Março 1927 foram aprovados os estatutos e eleitos os primeiros corpos gerentes.

Estava assim criada uma “casa regional” que recebeu o nome de Grémio dos Açores, designação que havia de perdurar até 1938. Nesse ano, o Governo decidiu que tal designação seria restrita a organismos corporativos do Estado, pelo que, em AG de Dezembro de 1939, esta designação mudou, por unanimidade, para Casa dos Açores (CA). Designação que só teve necessidade de ser ajustada, à cidade, em 1952, ano em que é criada, no Rio de Janeiro, uma “casa dos Açores”. Daí e até hoje, cada casa dos Açores criada, deve juntar o local/cidade onde fica sediada, para permitir a sua identificação.

Hoje, a Casa dos Açores, depois de Grémio dos Açores por 12 anos, orgulha-se de possuir uma história que revela quão empenhados e diligentes são os açorianos.

Os seus sócios são açorianos, ou seus descendentes, vivem na área geográfica de Lisboa e, em regra, ou são estudantes ou são adultos, na actividade das suas profissões ou aposentados.

São conhecidas as suas celebrações, desde as mais tradicionais - o Divino Espírito Santo, Jantar de Natal, Matinée infantil de Carnaval, Gala de Aniversário e Santos Populares, aos eventos enquadrados em ciclos temáticos – literatura (apresentação e evocação de obras de autores açorianos ou relacionadas com os Açores), música (recitais de diversos tipos e estilos musicais, ciclos de jazz e música erudita), cinema (desenvolvida no arquipélago e de filmes relacionados com os Açores), bem como colóquios, conferências, debates, exposições (pintura, escultura, fotografia), comemoração de efemérides, homenagens / evocações e ainda jantares temáticos.

A CA possui diversos protocolos de colaboração com instituições sedeadas, quer nos Açores, quer em Lisboa, ou ser mesmo sede de algumas das entidades protocoladas. Caso da TUCA (Tuna Universitária Corsário dos Açores) e das associações de antigos alunos dos liceus históricos dos Açores (AAALAH/Convento, AAALAQ e AAALH).

A CA foi distinguida como Instituição de Utilidade Pública (1928), recebeu a Ordem do Infante D. Henrique (1989) e a Insígnia Autonómica de Mérito Cívico (2016).

Hoje, a Casa dos Açores encontra-se nas redes sociais YouTube – com diversas sessões, melodias açorianas, a CAL sai à Rua, – no Facebook, onde divulga os seus eventos, poesia açoriana, a colaboração com a Rede de Proximidade bem como notícias sobre os Açores. Durante a pandemia, a CA reforçou a sua presença digital com a newsletter “este Mar que nos une”, tendo partilhado com os seus associados e amigos 37 edições, em 2020 e, até ao presente mês de Setembro, 32 edições.
Pode-se afirmar, pois, que a Casa dos Açores se encontra há cerca de 95 anos a divulgar e a promover os valores e a cultura dos Açores.


Um sonho para os Açores?
Temos vários sonhos… Como nos pede apenas um, elegemos o Mar, que é também a nossa terra. É o Mar que une as ilhas do nosso arquipélago e é o mesmo Mar que une o arquipélago à diáspora, esteja ela no Brasil, nos EUA, na Bermuda, Canadá, Uruguai e até na Madeira. Este elemento líquido que é um desígnio açoriano, é também uma riqueza, a maior fonte de oxigénio do planeta. Foi por ele que fomos descobertos… e é por ele que anualmente nos chegam os velejadores que cruzam o Atlântico. É por ele que nos chega o que não conseguimos produzir nas ilhas. E, nele, realizamos investigação científica de qualidade, pescamos e desenvolvemos interessantes ofertas sustentáveis de lazer.

Por se tratar de uma prioridade, um potencial de desenvolvimento, temos a enorme responsabilidade de o cuidar. Para assegurar o futuro e a nossa sobrevivência.

Mas este Mar, que por vezes se exalta, cresce, salta as rochas e nos destrói as costas… tem sido berço de canções, é fonte inspiradora para poetas e escritores. É também amado pelos artistas que o pintam, desenham e fotografam, ora em tons de azul de mansidão, ora em tons de cinza reveladores da sua forte energia e agitação.

Não fosse a pandemia, a nossa Casa dos Açores teria realizado um ciclo de conferências a ele dedicado!

Recordam-se, a propósito, as palavras do poeta Emanuel Félix:
Somos herdeiros dos quatro ventos
Sem uma vela para lhes dar
Temos amarras e temos lenços
Num cais de pedra para acenar.
Somos herdeiros da maresia
Que salga os olhos de olhar o mar,
E temos rios de lava fria
Que se recusam a desaguar! (…)


Respondido por:
A resposta, partilhada com a equipa, é de Delfina Porto, presidente da Direcção da Casa dos Açores.

None

Delfina Porto é natural da Horta, ilha do Faial, 69 anos, aposentada, casada, licenciada em engenharia química, mestre em administração e gestão e apaixonada pelos Açores, os seus valores e a sua cultura.



*Texto escrito de acordo com a antiga ortografia