O Porquê dos 9 Bairros

Nuno Costa Santos
#Editorial

Começo por me situar perante o leitor. Sou da freguesia do Livramento, Ilha de São Miguel, e vivo na freguesia de Nossa Senhora da Conceição, Ilha Terceira. Habito o bairro do Corpo Santo, antigo sítio de pescadores e estivadores, lugar onde sobrevive um perfume de identidade e sentimento comunitários. Habito um bairro, sim, mas sabemos que os Açores não são “dos bairros”. Temos bairros, mas somos identificados e identificamo-nos (mais) pelas freguesias onde crescemos ou moramos. 

Perguntar-se-ão: por que é que esta publicação açoriana, que pretende contribuir para unir as nove ilhas, se chama 9 Bairros?  Por que razão tem esse nome esta revista online de crónicas, microcontos, idiossincrasias, entrevistas, eventos em coretos, fotografias de colar na caderneta, receitas culinárias, música no walkman, sugestões para desopilar? 

Por duas razões que chegam, óbvio, de uma analogia. Uma delas é o facto de cada bairro ser uma unidade, na qual há um sentimento de pertença, de entreajuda, de conversa. que precisa das outras. Que tem a sua individualidade mas só existe com outros bairros. Que é unindo os bairros que se pode chegar uma unidade maior. Que contemos estes nove bairros atlânticos com um sentido – humano, cultural, social, político - de conjunto. Porque nenhum bairro, visto de dentro mas também olhado de fora, por mais próprio e característico que seja, vive sem os outros. Sem uma relação de complementaridade com os outros. Os bairros açorianos, juntos, fazem parte da mesma povoação atlântica. Importante, cada vez mais, reforçar essa ideia e esse sentimento. E, já agora, uma rivalidadezinha não faz mal a ninguém.  

© Sara Leal
© Sara Leal

Temos nove bairros, sim - cada um com as suas virtudes e os seus problemas. Com o seu modo de se apresentar, de viver tradições e mudanças. Mas com demasiadas rimas para serem considerados de distritos diferentes e contrastantes. Já o escrevi. Reforço.  Cada ilha açoriana é um bairro extenso e privilegiado. Exemplo de como deviam ser os bairros urbanos: arborizado, com jardins, matas e lagoas, sempre a precisar do cuidado de toda a gente, entre autoridades, habitantes e visitantes. A segunda relaciona-se com uma ideia cada vez mais falada no espaço público açoriano: o bairrismo.  O termo usado para definir as disputas entre as ilhas açorianas é bairrismo. Ora, se há bairrismo, há bairros. Figurativamente, pois. Por isso, de modo assumido e provocatório,  percorremos o chão livre e elástico da metáfora e da comparação.   

Três tópicos do menu, reveladores do espírito da casa. Este arranque conta com um roteiro nocturno do Corvo, duas receitas da sopa do Espírito Santo e o texto de apresentação de um artista que voltou aos Açores inspirado pela causa do Azores 2027. 

Quem mais se quer juntar?


Nuno Costa Santos 
(Coordenador de Participação do Azores 2027 – candidatura de Ponta Delgada a Capital Europeia da Cultura)

*Texto escrito de acordo com a antiga ortografia