Pedras sob os passos futuros

Manuel Menezes de Sequeira
#Let's go out

1997. Há uns longos 24 anos, chegámos pela primeira vez às Flores, depois de uma primeira viagem aos Açores, em 1991, em lua de mel. Viemos nós, a Teresa e eu, e vieram o meu irmão Miguel e a Cláudia. Nós em passeio, eles para uma expedição de botânica, pois o meu irmão nessa altura estudava o Holcus lanatus, uma gramínea a que quase ninguém, tirando quem vive da terra ou quem se dedica à botânica, liga alguma coisa. Mochila às costas, foi de táxi que viemos do aeroporto até à Zona Balnear da Fajã Grande, onde então se acampava. Recordo como se fosse hoje o momento em que o táxi começou a descer do Portal para Fajãzinha. Ficou impresso na minha memória para sempre. Não era possível. Aquilo não existia, muito menos em Portugal. Sentimos o que tantos sentiram quando cá chegaram. Os irmãos Bullar, por exemplo, sentiram-no, tendo falhado apenas ao usarem aquele «perhaps» espúrio com que iniciam a sua descrição:

The village [Fajãzinha] is only so far worthy of notice, as being connected with the grandest scenery, perhaps, to be found among the Azores. It stands on the level floor of a magnificent semi-amphitheatre of cliff's, facing the open sea. It is surrounded by green fields and fresh vineyards, well-watered by the numerous streams that flow through it from the hills; and, as we descended the steep zigzag path cut in the southern cliffs, its limits were faintly marked out by the blue curtain of wood-smoke which hung over the cottages. The fires had just been lighted for the evening meal. The setting sun shone up the mouth of the hollow with a soft yellow light, illuminating one side and throwing the other into tender shadow. In one place the sunshine glittered on a thin silvery waterfall, which slowly turned over the edge of the distant precipice, — in another it sparkled through a shower of spray, into which a snowy thread was broken in its long fall from the heights; and, as the soft clouds of vapour, into which other waterfalls dispersed, were wafted to and fro in the light evening breeze, like the cloud of incense from a censer, — it slightly tinged them with gold. Above our heads the hazy cliffs towered in their bold semicircle, diversified in colour by various shades of green, brown, and grey; and, where the ledges of lava which projected through the soil had been wetted by streams and waterfalls, or by oozings from above, by streaks and bands of shining black. The sea in front of this vast theatre was brightly lighted by the sun, which, however, went down soon afterwards behind a bank of heavy clouds, and left the valley and the village, with the cliffs behind, cold and lustreless. (1)  

Lágrimas nos olhos, lá descemos, no táxi. Foi o início da nossa exploração pessoal das Flores. Aquela palpitação ao ver o cenário da Fajãzinha foi amor à primeira vista, paixão que se transformou, gostamos de crer, em casamento. Viemos de novo, em 1999, com o nosso filho pequeno, de um ano. O João aprendeu a andar por cá, na Casa da Esméria, na Aldeia da Cuada. E viemos todos os anos, com apenas duas excepções (uma delas um triste erro), até 2018. Ficámos sempre na Cuada, entre 1999 e 2018, com os inexcedíveis Teotónia e Carlos como anfitriões. Férias passaram a ser nas Flores, com a reserva na Cuada feita no check-out do ano anterior. 

Brincávamos, dizendo aos amigos que as Flores eram «o nosso Algarve». Mal eles sabiam… Nessa altura, era raro o ano em que algum familiar ou amigo de Lisboa se aventurava a vir até cá. Nada os demovia do seu Algarve. As descrições entusiasmadas das belezas da ilha que fizemos, as fotos que mostrámos… Nada. Hoje, mais de 20 anos depois, é diferente. Mas não consegui nunca compreender a relutância em vir visitar o paraíso. Modas.

Uma tão grande paixão deu mesmo em casamento. Em 2018, mudei-me para cá, ponta de lança da família. As Flores, que até então tinham sido local de caminhadas, mergulhos, passeios, relaxe, jantares ao pôr-do-sol no quintal da casa da Cuada, tornaram-se local de vida, de trabalho. Embora tivesse tido sempre contacto e amizade com florentinos (a Teotónia, o Carlos, o Celestino, e o David terão sido os primeiros), só tomei verdadeiro contacto com a comunidade e alma florentina a partir dessa altura. Só então a ilha ficou completa, dentro de mim. As Flores e os florentinos, aqueles que construíram ao longo dos séculos a belíssima paisagem e o belíssimo património florentino, a natureza e o humano em combinação perfeita, os bosques, as turfeiras, os montes e vales, as ribeiras e cascatas, os penhascos e falésias, mas também as canadas e caminhos, as levadas e pontes, as casas e palheiros, os maroiços e muros,

ISTO TUDO!
flores de diligência e força
com raízes de tino (2), 

como disse Pedro da Silveira no seu poema Terceiro (3), numa definição perfeita do florentino pelas suas obras. Tudo isto flores, sim. História não escrita de um povo que heroicamente, com diligência e força enraizadas no tino, conquistou esta bela mas difícil ilha.

Aqui há um par de anos, as Flores foram com total justiça classificadas como Capital Regional das Cascatas. São o elemento mais icónico e distintivo da natureza intocada desta ilha. Mas, e a outra parte das Flores, a humana? Esta reflecte-se no seu património, material e imaterial (4). Reflecte-se sobretudo, no que ao património material respeita, e sem desmerecimento de alguma arquitectura erudita de muito interesse (de que destaco o Convento de São Boaventura, onde se aloja o excelente Museu das Flores), nos produtos da arquitectura e engenharia populares, nos produtos da tal diligência e força, com raízes de tino. De entre este património, há um que se destaca pela beleza, pela extensão, e pelas vistas sobre a paisagem e contacto com a natureza que nos permite: os caminhos. Se esta ilha, quanto a natureza, é a Capital das Cascatas, ela é, quanto ao que é propriamente humano, em integração perfeita com a natureza, a Capital dos Caminhos. São quilómetros de caminhos por montes e vales, ligando freguesias e lugares, atravessando a ilha, dando acesso a moinhos, levadas e fontes, e dando acesso a campos, muitos dos quais, pelo seu abandono, transformados de novo em bosques mágicos.

Há, creio eu, uma ironia na beleza das Flores. Se por um lado ela resulta do esforço humano, por outro lado ela também resulta, pelo menos tal com a apreciamos hoje, da dificuldade de cá viver, que levou gerações de Josés (5) a deixar as suas Beiras (6), como tão bem nos mostrou Alfred Lewis, no seu Home is an Island (7), partindo para «Califórnias perdidas de abundância» (8). A ironia é essa. A extrema dificuldade da vida florentina, a pobreza, mesmo, levaram a que alguns dos efeitos do progresso chegassem aqui mais tarde. Muito se sofreu para nós gozarmos esta beleza… Estejamos gratos e reconhecidos. Defendamos os frutos desse labor sofrido, começando, mas não acabando, pelos caminhos. Há que estudá-los, protegê-los e preservá-los. Há que divulgá-los. São uma das maiores riquezas das Flores estas assinaturas florentinas, sofridas e esforçadas, na paisagem. Nestes caminhos «as pedras/são, mais que pedras, a força/de as ter trazido e plantado/sob os passos futuros» (9), os nossos passos agradecidos.

Não há caminho que resista sem estes passos, presentes e futuros. Sem passos presentes, não há passos futuros: os caminhos morrem. Devagar e em sossego, mas morrem. As plantas chegam, as árvores crescem, as pedras soltam-se, e desvanece-se, na natureza, «a nossa/história./Que não foi escrita/– nomes de heróis –/nos compêndios», uma história que é «Grande de mais para palavras mortas» (10). Ou, utilitariamente (e mais que compreensivelmente, note-se), chegam as máquinas, sem passos presentes ou futuros que justifiquem outra utilização. Cobertos primeiro com bagacina e mais tarde com asfalto, reproduzindo a triste história deste património em tantos outros locais de Portugal onde o progresso chegou primeiro, esses caminhos, essa história, têm então uma morte rápida e definitiva. Não sobra senão, talvez, a memória do seu traçado sob o asfalto.

O desafio, pois, é este: caminhemos! Por prazer, sim. Para desopilar, claro. Mas também por amor a este património que é florentino e que é dos florentinos, passados, presentes e futuros. Botas no caminho, cajado ou bastão na mão, contribuamos para que esta história não escrita seja preservada, até que estas pedras dos caminhos, como as «laranjeiras disformes,/figueiras torcidas/alastrando, subindo», se tornem «mais velhas que a memória/dos mais velhos dos velhos» (11).

Este desafio de caminhar, de conhecer, de proteger, foi-nos lançado pelo Pierluigi Bragaglia, tragicamente falecido a 25 de Outubro do ano passado, faz pouco mais de um ano, aos 57 anos de idade. O seu amor às Flores e aos seus caminhos resultou naquele que é ainda, e será provavelmente sempre, o melhor guia pedestre desta ilha. A sua obra foi recentemente reeditada pela sua família em dois volumes, com organização de Vasco Rosa, e inclui, no livro segundo (12), o seu Ilha das Flores – Açores: Roteiro histórico e pedestre. Recomendo vivamente este livro, mas sugiro, para estas viagens florentinas, a edição original, mais pequena e transportável (13). É um excelente companheiro, combinando a história, e o Pierluigi era um historiador, com o guia pedestre.

Proponho então dois percursos não oficiais. Em geral, quando se faz percursos não oficiais são necessárias algumas precauções adicionais. Algumas recomendações genéricas, nem todas aplicáveis a estes dois percursos, mas que vale a pena recordar:
●    Avise amigos ou familiares do que vai fazer. Lembre-se que nem sempre terá cobertura no telemóvel.
●    Vá bem equipado, com botas de caminhada, um bastão ou cajado, estojo de primeiros socorros, bem como água e comida suficiente.
●    Evite calções e manga curta, pois os percursos menos usados podem ter muita monda, em especial silvas.
●    Evite riscos desnecessários: ocasionalmente há quebradas a impedir a passagem ou uma ribeira que, com as chuvadas, deixou de se poder atravessar em segurança.
●    Se um percurso estiver perigoso, regresse e experimente outro, ou deixe para outro dia.
●    Descanse sempre que necessário, pois os desníveis a vencer podem ser grandes e a humidade florentina muitas vezes não ajuda.
●    Nas caminhadas mais exploratórias que fazemos ocasionalmente, levamos connosco foicinhas para a monda: é a nossa pequena contribuição para a manutenção dos velhos caminhos. Mas usar uma foicinha torna tudo mais perigoso, como é evidente. Se optar por levar uma foicinha, use luvas e, sobretudo, triplique os seus cuidados.

Para cada percurso proposto indico, para além da página onde o percurso se encontra no guia do Pierluigi Bragaglia, o seu registo GPS e fotográfico, feitos usando a aplicação AllTrails. É importante notar que o registo GPS, sendo feito através do GPS do telemóvel, deve ser lido com um grão de sal. Use-o sobretudo para garantir que não se afasta demasiado do percurso ou para saber se caminha na direcção correcta. Os seus olhos e bom-senso são fundamentais. Quanto aos tempos de percurso indicados, são meramente indicativos: tudo depende do seu ritmo natural, do que encontrar pelo caminho, da sua condição física, das pausas que fizer, das fotografias que tirar, etc.


Fajã dos Cedros
Dados:
●    Dificuldade: fácil
●    Extensão: ≈4 km
●    Ganho de elevação acumulado: 120 m
●    Duração aproximada: 1:30 h
●    GPS: https://www.alltrails.com/explore/recording/afternoon-hike-287e03d--169
●    Roteiro histórico e pedestre: página 262
Este percurso leva-nos a um dos locais mais bucólicos das Flores, a Fajã dos Cedros. Trata-se de uma das fajãs de altitude das Flores, ou seja, zonas planas excelentes para a agricultura que, em vez de estarem quase ao nível do mar, se encontram a meio da encosta, por vezes já longe do mar, como acontece neste caso, em que a Fajã está a uns bons 300 m de altitude, entre o vale da Ribeira do Cascalho (que desagua na Alagoa) e a Tapada Nova. O caminho está em bom estado e é mantido com regularidade, tendo o seu início sido bem assinalado pela Junta de Freguesia dos Cedros, que tem feito um meritório esforço de divulgar o seu património. Uma das grandes vantagens deste caminho é que tem desníveis pequenos, podendo ser realizado por quase todos.
Pode estacionar o automóvel perto da paragem do autocarro, na subida da estrada regional após a curva. Tendo estacionado, saia da estrada regional e percorra, para Sul, a travessa que o leva à junção da Rua do Miradouro com a Rua do Lombo (que é depois, e por sua vez, continuada pela estrada da Tapada Nova). Na junção das duas ruas, vire à direita e suba a Rua do Lombo. À sua esquerda, após duas ou três casas, encontrará o início do caminho, agora bem assinalado.
O caminho desenvolve-se ao longo das curvas de nível das encostas do vale da Ribeira do Cascalho, mostrando belíssimas vistas do vale, com o Pico da Sé a Sudoeste, o Franciscão a Sul e a Alagoa a Sudeste, com Santa Cruz por trás. Em alguns troços da canada o piso é belamente calcetado: se estiver seco, é confortável, se estiver molhado, exige alguns cuidados. Ao fim de cerca de um quilómetro de caminhada chegará à bucólica Fajã dos Cedros. Aprecia os poucos, mas belos, palheiros, os prados verdejantes, a ocasional lagoa de inhames, as vistas sobre o vale da Ribeira do Cascalho e sobre a Alagoa, ao fundo. Vá percorrendo o caminho que atravessa a fajã de ponta a ponta. Antes de chegar ao bambuzal, aproveite para descansar e fazer um piquenique, pois chegou ao fim do percurso que proponho. Se quiser explorar um pouco mais, continue pelo bambuzal e pelos bosques de criptoméria adentro. O registo GPS reflecte as explorações que fizemos, numa tentativa falhada de encontrar ligação com o caminho que, do outro lado do vale, desce do Franciscão à Ribeira do Cascalho, prometendo-nos a possibilidade fazer um caminho circular ao longo de todo o vale, que neste momento não parece ser possível sem enorme esforço. Não sendo um percurso circular, regresse pelo mesmo caminho. Lembre-se que o que vemos ao longo de um caminho varia consoante a direcção em que o percorremos. Por isso, não se apresse e aprecie. Chegado aos Cedros, procure a Casa dos Cedros (confirme se está aberta), onde pode comprar bons doces.



Quebrada da Rocha Alta
Dados:
●    Dificuldade: difícil a muito difícil
●    Extensão: ≈6 km
●    Ganho de elevação acumulado: 189 m
●    Duração aproximada: 2:45 h
●    GPS: https://www.alltrails.com/explore/recording/afternoon-hike-ab24cd2--135
●    Roteiro histórico e pedestre: páginas 168 e 172

A descida à Fajã de Lopo Vaz é um trilho oficial das Flores (o PRC04 FLO) que vale a pena fazer (14). Quem o percorre, vai topando, ao fundo, depois da Fajã, uma outra «fajã», larga e regular, que parece acessível. É a Ponta ou Quebrada da Rocha Alta, local a que apetece chegar, para quem desce, mas que implicaria fazer parte do percurso a nado, pois não há caminho junto ao mar. O percurso que proponho leva-nos à Quebrada da Rocha Alta, mas a partir da Costa do Lajedo.

A Quebrada da Rocha Alta resulta de uma enorme quebrada que ocorreu em 22 de Maio de 1980 e que causou um pequeno tsunami nas Lajes das Flores. A quebrada foi tão grande que formou uma larga ponta, mar adentro. Nestes últimos 41 anos a vegetação densa tomou as pedras, formou solo, e se hoje o local não se chama Fajã da Rocha Alta é só porque ainda ninguém começou a usar esse lógico nome, talvez porque o local continua a não ser habitado nem aproveitado para a agricultura. Há que dar tempo ao tempo.

A parte difícil deste percurso está no acesso à quebrada propriamente dita. Mas quase todo o restante percurso se faz sobre o rolo, junto ao mar, onde é fácil torcer um pé. Boas botas e cuidado, por isso.

O acesso ao percurso faz-se descendo a rua principal da Costa do Lajedo, atravessando a povoação e continuando até à bifurcação que nos leva, à direita, na direcção da Água Quente e, à esquerda, para o Purgatório. Siga para o Purgatório e aproveite para visitar a loja de artesanato e a oficina do grande artesão José Agostinho Serpa, músico e construtor de todo o tipo de instrumentos de cordas, mas sobretudo das belas violas da terra. Passada a casa e oficina, cruzará a Ribeira do Loural. Um pouco depois, antes do início de uma empinada rampa de cimento, terá lugar para deixar o carro. O percurso começa justamente nessa rampa, ao lado do alto Castelo. Desça-a e siga depois pela canada, primeiro em direcção a Nascente, depois em direcção a Sul. Quando a canada terminar, encontrará um caminho de pé posto. Siga-o também. Chegará a um conjunto de lajes de basalto algo inclinadas que terá de atravessar, sempre com muito cuidado. No final dessas lajes, o caminho faz-se por dentro das rochas: tem literalmente de descer para o espaço entre elas e, depois, atravessar uma pequena passagem em direcção à costa, saindo das rochas junto à falésia. Tenha muita atenção e cuidados redobrados nesta parte do percurso: os desníveis são grandes e o solo é muito instável. O caminho está talhado neste solo, em parte na forma de degraus, e consegue-se geralmente passar sem dificuldade de maior (mas com cuidado). No entanto, é possível que o caminho esteja em mau estado. Vá com atenção e não arrisque. Se necessário volte para trás, pois outros dias e caminhos virão. No final desse caminho precário, depois de descer um pouco, chegará à parte mais difícil do caminho: é necessário descer até ao rolo, junto às rochas, ao nível do mar. A descida não tem degraus e o solo é francamente instável. Geralmente está por lá uma corda usada por quem vai à quebrada pescar ou simplesmente fazer um pouco de praia. Verifique se a corda e a sua fixação estão bem seguros antes de descer! O desnível já não é muito grande, neste ponto, mas é mais que suficiente para acidentes complicados.

Uma vez atingido o rolo, chegou ao limite Oeste da Quebrada. Logo à frente tem um local onde pode passar algum tempo na praia de rolo e, se o mar o permitir, tomar uns banhos. Depois, é seguir pela praia de rolo fora. É tudo belíssimo e, dependendo da altura do ano, dos ventos, das correntes e das marés, poderá deparar-se com o extraordinário espectáculo das coloridas caravelas portuguesas encalhadas nas negras e brilhantes pedras roladas de basalto, molhadas pelas ondas. Mesmo que as caravelas não estejam por lá, vale a pena o simples espectáculo do rolo, preto e molhado, salpicado aqui e acolá por pedras e pedregulhos de tons que vão do ocre ao vermelho. Aprecie também a paisagem e a enorme altura das falésias do Castelo e da Rocha Alta.

Quando completar o semicírculo da quebrada, estará sob o extremo Leste da Rocha Alta, com impressionantes falésias verticais de onde a água cai em subtis cascatas. Nesta zona da quebrada costuma haver muita areia, para dentro do rolo. É um bom local para merendar, descansar e apreciar as vistas, incluindo uma perspectiva diferente sobre a Fajã de Lopo Vaz. Como estamos na costa Sul da ilha, pode fazer calor. Se o tempo e o mar estiverem para isso, talvez seja de dar um mergulho.

O regresso faz-se seguindo o mesmo percurso. Os desníveis são agora menos perigosos de vencer, uma vez que os subimos, mas é necessário usar os mesmos cuidados. A elevação total desta subida são uns 120 metros. Embora não pareça muito, custa, pois as subidas são íngremes. Por isso, descanse sempre que necessário.

E pronto. Dois percursos para desopilar. Tal como estes, há muitos outros caminhos a visitar nas Flores. Explore. Muitos deles não estão nos mapas mais recentes, embora alguns se encontrem nas cartas militares mais antigas. E, claro, na memória dos florentinos. Mantenha vivos essa memória e esses caminhos.


*Texto escrito de acordo com a antiga ortografia



(1) Joseph Bullar e Henry Bullar, A Winter in the Azores: And a Summer at the Baths of Furnas, ed. Andreas Stieglitz (Norderstedt: Books On Demand Gmbh, 2007), 341

(2) Ênfases meus

(3) Pedro da Silveira, Fui ao Mar Buscar Laranjas: Poesia Reunida, ed. Urbano Bettencourt, 1.a ed., Poesia 1 (Angra do Heroísmo, Terceira, Açores, Portugal: Instituto Açoriano de Cultura, 2019), 138 «Terceiro»

(4) O português falado nas Flores, por exemplo, receio que em extinção

(5) Alfred Lewis

(6) Fajãzinha

(7) Alfred Lewis, Home Is an Island, Reprint edition, Portuguese in the Americas 17 (Dartmouth, Massachusetts, EUA: Tagus Press, 2012).

(8) da Silveira, Fui ao Mar Buscar Laranjas: Poesia Reunida, 57 «Ilha»

(9)  da Silveira, 138 «Terceiro»

(10) da Silveira, 138 «Terceiro»

(11) da Silveira, 138 «Terceiro»

(12) Pierluigi Bragaglia, Tosão de Ouro: Açores, séculos XV-XXI, ed. Vasco Rosa, 1.a ed. (Fajã Grande, Ilha das Flores: Família de Pierluigi Bragaglia, 2021), liv. segundo

(13) Pierluigi Bragaglia, Ilha das Flores - Açores: Roteiro histórico e pedestre (Fajã Grande, Ilha das Flores: Edição do autor, 2009)

(14) Ver https://trails.visitazores.com/en/trails-azores/flores/faja-de-lopo-vaz