Pelas entranhas da ilha

Laurinda Sousa
#Let's go out


São apenas 97km2 de superfície, mas há quem lhe chame a Ilha dos Gigantes. Dizem também que o seu formato faz lembrar a Austrália, salvaguardado o tamanho, claro está. 
Há ainda quem lhe chame Ilha do Sol, Ilha Amarela, Ilha do Barro, Ilha dos Fósseis, Ilha do Ovo, Ilha de Gonçalo Velho e por aí fora. Tem muitos nomes este pequeno torrão de terra perdido no meio do Atlântico, mas não é sobre isto que quero escrever.

Quero falar-te do que se pode fazer para desopilar neste ilhéu oriental, em qualquer altura do ano e de preferência até fora da época alta de verão. Quero falar-te de como e do quanto te podes surpreender se disponibilizares 5 dias para te embrenhares nas suas entranhas. Este é para mim o tempo ideal para se sentir Santa Maria e desfrutar do muito que ela tem para oferecer. Este não é um território para consumo rápido e esta ilha, de uma beleza ímpar, mas discreta, só se revela para quem a quer conhecer verdadeiramente e lhe dedica tempo. 

Do que quero mesmo falar-te é do resultado da carolice de um grupo de amigos que, precisamente, decidiu arranjar forma de desopilar aos fins de semana. Começaram por diversão e espírito aventureiro desbravando e redescobrindo caminhos antigos que fizessem conexão com os trilhos oficiais já existentes. Criaram assim a génese do que viria a ser mais tarde, e depois de homologado, o Grande Trilho de Santa Maria. São cerca de 80 km no meio da natureza em que as surpresas se sucedem a cada virar da esquina, tal a variedade paisagística que a ilha oferece.


E o que são 80 km de caminhada? Para os atletas de trail run, por exemplo, não é nada, mesmo que isso implique descidas e subidas ingremes, fazem-nos num único dia na sua maioria e os atletas de topo até o fazem em poucas horas. Para outros o esforço é bem maior, mas a recompensa é garantida. Mesmo quando se perde o fôlego e as pernas começam a bambalear devido ao cansaço. A mim aconteceu-me no final da 3ª etapa, depois de descer e voltar a subir São Lourenço, rezei a todos os santinhos que me lembrei por sentir cada perna a pesar toneladas. No dia seguinte, ainda meio “crocante”, foi só começar a andar, as dores desapareceram e a sensação de superação foi indescritível. Valeu cada “ai” e cada suspiro.  

Podes percorrer o Grande Trilho de forma autónoma, mas o projeto Ilha a Pé ajuda a que a experiência seja verdadeiramente inesquecível já que permite pernoitar no final de cada etapa (5 dias/4 noites). Antigos palheiros de pedra seca foram convertidos em “abrigos de caminhantes”, simples, confortáveis e com uma vertente ecológica bem vincada. Nas noites mais frescas as salamandras ajudam a aquecer o corpo uma vez que a alma essa já está acalentada pelas maravilhosas e surpreendentes paisagens naturais e humanas.  


Era disto que te queria falar, deste desafio em jeito de “desopilanço” na natureza mariense, usufruindo de tudo o que ela tem para oferecer, ar puro, florestas densas, desertos vermelhos, praias de areia clara, cascatas em sítios recônditos, grutas mágicas, lugares que são autênticos presépios, ruínas históricas, formações geológicas e paleontológicas incríveis, gente de sorriso e peito aberto e muito, muito mais. Mas isso fica para descobrires quando e se te deixares encantar pela Ilha Mãe. 

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Laurinda Sousa
Socióloga de formação, ex jornalista, profissional de turismo e produtora cultural. É embaixadora em Santa Maria para a candidatura de Ponta Delgada – Azores 2027.