Todos somos UM

Gabriela Silva
#Chronicle

A ilha serenou. O número de voos foi drasticamente reduzido. Aqui e ali ainda passam ainda alguns turistas. Mas serão provavelmente os últimos deste ano turístico que começa em abril e atinge o seu pico em agosto.

O turismo está a ser considerado por muitos como “a galinha dos ovos de ouro” da Região Autónoma dos Açores. E é assim que está a ser tratado.

Há um caminho a percorrer. Longo, muito longo. Que nos leve a refletir seriamente sobre aquilo que temos, aquilo que demos, aquilo que queremos dar, aquilo que devemos repensar, o que deve ficar como está…

Sou apenas mais uma pessoa que pensa sobre estas coisas e tem uma opinião que, como qualquer opinião, vale o que vale. Mas sou observadora do que se passa e ouço a opinião daqueles que demandam as nossas ilhas e delas saem, ora felizes, ora desiludidos.

O turismo é uma opção que envolve numerosos agentes. Provavelmente nunca chegaremos a conclusões definitivas quando nos sentarmos a conversar sobre o assunto. Não podemos estar isolados ou de costas voltadas uns para os outros. Tem que haver um fio condutor que nos diferencie e, ao mesmo tempo nos envolva numa forma personalizada e única de receber.

Os tempos mudaram. Já não se podem receber turistas como estranhos. No mundo global somos todos UM. Há que fazer a diferença. Não somos ilhas desérticas com calor durante todo o ano e a praia não é a nossa oferta principal. Mas podemos ser um destino de sonho se quisermos dar o melhor de nós.

Não, não somos apenas um destino de natureza e aventura. Somos mais, muito mais. Somos um destino cultural, podemos ser um destino gastronómico com muitas atividades e experiências. E somos mais: somos um dos melhores destinos do mundo no inverno. Não temos neve, mas temos chuva, visões de mar bravo, cascatas em turbilhão, serões à lareira, temperaturas moderadas, caminhadas excitantes e inesperadas. Poucos lugares se poderão dar ao luxo de oferecer as quatro estações num só pacote. Não estou a brincar. Estou a desafiar a imaginação de cada um a criar as suas próprias experiências e a vivenciar o que de melhor têm as nossas ilhas.

A ilha das Flores tem uma comunidade estrangeira que cresce diariamente. Na sua maioria, são pessoas que têm uma vida comunitária, gostam de colocar o seu saber ao serviço de todos e veem na ilha um potencial que os locais não viram ainda. Conhecem outros mundos e vêm de sociedades globais onde existe de tudo, igual em todo o mundo. Apreciam a originalidade de uma ilha que depende do tempo, que tem um barco de 15 em 15 dias e em que toda a energia é colocada na geografia e na previsão do tempo. O lado exótico da vida nas ilhas nunca foi explorado. Os vendedores de sonhos estariam disponíveis para trabalhar com um destino ilhéu que tem um infinito potencial na área das boas surpresas? Penso que sim. E acredito que, com sucesso garantido.

Este verão estive na ilha de S. Miguel. Percebi que os residentes se sentem incomodados com os turistas. São obrigados a reservar, a esperar, a pagar muito caro por serviços que outrora eram acessíveis sem esses pré-requisitos. É mau. O turismo tem que ser bom para todos, não apenas porque se ganha dinheiro, mas porque há uma miscigenação cultural que interessa a todos e representa uma mais valia coletiva.

Cada cidadão pode ser agente cultural na sua localidade. É esse o grande propósito do projeto Azores 2027. Se ganharmos esta batalha e viermos a ser Cidade Europeia da Cultura, teremos que mostrar a nossa aposta na prática. E teremos que ficar orgulhosos e mostrar esse orgulho ao mundo. E a área do turismo engloba todos os pontos essenciais da nossa candidatura. E é por isso que vamos ganhar! Com a ajuda de todos.

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Gabriela Silva é uma das embaixadoras das Flores da candidatura de Ponta Delgada | Açores a Capital Europeia da Cultura 2027 – Azores 2027.
É agente cultural e empresária na área do turismo.
Interessada e estudiosa de meditação, coaching e outras áreas alternativas de cura e expansão da consciência.