
Um roteiro afetivo por Ponta Delgada

Em Ponta Delgada, olhe para… O chão!
Foi o que me encantou assim que cheguei à Ponta Delgada, num dia frio e húmido de inverno em 2018. Portugal continental está repleto, claro, de calçadas portuguesas. Mas por aqui, o que chamou minha atenção foram os padrões, diferentes do que estava acostumada, com a presença constante e mais marcante das pedras escuras de basalto. As calçadas são tão importantes para o patrimônio local que uma equipa da Universidade dos Açores fez dois roteiros de Ponta Delgada baseados nesses padrões. Eu já percorri os dois!
Calçadas portuguesas
Um verdadeiro ilhéu toma banho de mar todo dia, o ano todo. Foi minha primeira lição de açorianidade. Tenho tentado e o hábito entranhou. Em Ponta Delgada temos o privilégio de ter a zona balnear do Pesqueiro, uma bela piscina natural aberta o ano inteiro. Um mergulho a qualquer hora do dia e já está!

Ir ao Mercado da Graça aos sábados é meu programa predileto. Como espaço, a praça não tem nada de extraordinária. São os produtos que lá são vendidos, as pessoas que os vendem e os encontros com os amigos que tornam o mercado especial. Os ananases, as anonas, o doce de capucho, os queijos... dá vontade de provar tudo!
Mercado da Graça
E quando a fome bate, o melhor a fazer é seguir até o Mané Cigano. É uma tasca, bem tasca, daquelas em que ainda se partilham as mesas. E servem uma das melhores iguarias dos Açores: chicharros fritos com feijão assado. E cebolas em conserva.

Sou de origem judaica e fiquei muito feliz ao descobrir um pequeno tesouro quase escondido em Ponta Delgada: a antiga sinagoga, restaurada e reaberta em 2015 como Museu Hebraico Sahar Hassamain – Portas do Céu. É uma das sinagogas mais antigas de Portugal e um dos únicos vestígios da cultura hebraica no arquipélago dos Açores. O espaço merece uma visita, seja por quem tem interesse pela cultura judaica ou por simples curiosidade.

A geologia da ilha me interessa. E em Ponta Delgada encontra-se uma das maravilhas vulcânicas de São Miguel - o maior túnel de lava da ilha, com uma extensão no subsolo de 1.6 quilómetros. É a Gruta do Carvão e lá dentro existem formações bizarras, como estalactites e estalagmites interessantes de se observar. Uma viagem!

©gruta do carvão
Sair do subsolo e subir aos céus. Observar a cidade por cima. Na rua lateral do edifício da Câmara Municipal de Ponta Delgada encontra-se a entrada para a Torre Sineira, construída no século 18. Com quase 30 metros de altura e 106 degraus em caracol chegamos ao topo, um pequeno terraço onde temos uma vista privilegiada de 360º da cidade.
Ponta Delgada tem seu quartier d’artistes, O Quarteirão, como um grupo de artistas, designers e artesãos locais denominam um conjunto de ruas no centro histórico, onde estão seus estúdios/lojas. Passear pelo quarteirão é um prazer.

Não muito longe d’O Quarteirão está a Fonseca Macedo – Arte Contemporânea, galeria dedicada à apresentação de artistas emergentes e consagrados, sejam regionais, nacionais ou internacionais. A Fátima Mota, diretora e mentora da galeria, está nesta batalha há 21 anos. A próxima exposição a ser inaugurada é da artista açoriana Sofia Caetano, numa parceria da galeria com o festival de artes Walk&Talk.

©Elliot Sheedy
E é com o Walk&Talk que finalizo este pequeno roteiro afetivo por Ponta Delgada. Em sua 10ª edição, o festival ocupa a cidade e se espalha pela ilha, com arte pública, exposições, performances e deambulações por vários espaços públicos e culturais, ligando arte, pessoas e natureza. O ponto de encontro do W&T é na vaga - espaço de arte e conhecimento, o mais recente projeto de programação artística em Ponta Delgada, sempre de portas abertas para nos receber.

Rachel Korman é brasileira de origem polaca. Jornalista de formação, é artista visual e gestora cultural independente. Já correu mundo e escolheu São Miguel para passar o resto da sua vida.