Vamos desopilar: São Jorge

Maurício de Jesus
#Let's go out
© Rui Silveira
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A ilha com nome de São Jorge, conhecida por muitos como a ilha do Queijo dos Açores, como a ilha das Fajãs, também como o Dragão Adormecido, a ilha de Francisco de Lacerda ou de Guilherme Van Der Hagen – um músico, outro povoador.

Chegando à Vila das Velas de avião ou de barco certamente notará o castanho basáltico da ilha. Contemplar o Faial e o Pico num espaço como o Cantinho das Buganvílias é uma imagem que poderia constar de um sonho, algures numa noite de primavera ou de outono, neste presente a que sou fiel, a minha ilha de São Jorge.

Sentir o campo e o mar, o sal e a terra, numa Fajã como a do Ouvidor (onde se situa a Poça Simão Dias), a Caldeira de Santo Cristo (onde se situa a Lagoa e as amêijoas) ou a dos Vimes (onde encontra o café produzido na ilha), onde poderá viver a aventura, o sossego e também a calmaria que a ilha oferece, com a possibilidade de simplesmente sentir na pele o Oceano Atlântico, num mergulho épico. Em algumas destas fajãs, entre as 70 e tal que existem em São Jorge, pode reparar nas vinhas, nos difíceis acessos, nos vários trilhos e, acima de tudo, na simplicidade de muitos que lá trabalham as terras para, nas várias estações do ano, recolher o "pão nosso de cada dia", fruto do seu trabalho. Nestas, haverá várias escolhas para conviver. É o caso das adegas, dos espaços de restauração, ou poderá sempre provar o atum de Santa Catarina num formato simples e humilde, de valor e com caráter, experienciar o triângulo açoriano de mochila às costas.

© Rui Silveira
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O museu Francisco de Lacerda, na Calheta, ao lado do Cais, os núcleos museológicos, como é o caso dos Rosais, transbordam a cultura jorgense. Na ilha de Lacerda, poderá encontrar as Sociedades Filarmónicas que animam as festas profanas. Em algumas dessas casas poderão reparar na data da fundação e encontrarão a mais antiga dos Açores, a União Popular, na Freguesia da Ribeira Seca, concelho da Calheta. Uma outra sugestão cultural é uma visita ao Ateliê do Pieter Adriaans, em Santo António, no Norte Grande.

O culto do Divino Espírito Santo demonstra a devoção da ilha, embora cada freguesia ou sítio tenha as suas maneiras e costumes. Esta manifestação religiosa traz da diáspora várias famílias para pagar promessas na sua terra natal, bem como pessoas da própria ilha que elevam a sua fé, durante várias semanas após a Páscoa, numa época caracterizada pela partilha e, acima de tudo, pela ajuda de muitos devotos. Como músico amador, tenho na minha memória os melhores momentos de fé nesta ponta da ilha. Estas celebrações são antigas e muito respeitadas em São Jorge. Algo digno de ser visto.

© Rui Silveira
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Pode fazer uma visita às fábricas da ilha, por exemplo às que produzem o Queijo de São Jorge, presentes nas freguesias de Santo Antão, na Ribeira Seca, e também na Beira. Por outro lado, depois de saborear o campo, prove o mar com uma visita à fábrica de Santa Catarina, na vila da Calheta.

O lazer e a aventura estão presentes na ilha. As empresas 'Aventour Azores', 'Discover Açores', 'MarAzores Sal & Sonhos' e 'ViaMar' são algumas que, na terra ou no mar, lhe poderão oderecer uma volta à ilha, descer uma cascata, ou outra atividade que lhe vai tirar o fôlego de tanta adrenalina. Seguindo para a Ponta de Guilherme da Silveira ou de Van der Hagen, irá passar pela serra do Topo. Com nevoeiro, chuva, frio, não deixará de ver e de sentir o esverdeado e a manta de retalhos que os pastos agrícolas proporcionam. Uma maioria de animais brancos e pretos, outros vermelhos, compõem esta peculiar e bela vista, que caracteriza a ilha e mexe com a economia.

© Rui Silveira
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Antes de chegar a São Tomé, irá ver uma placa a dizer Fajã de São João. Se for antecipadamente, poderá marcar um almoço no Ginjal, onde a Sra. Rosa Durvalina o presenteará com um dos almoços mais típicos e regionais que irá conhecer por cá.

Depois de subir a ladeira, ao vir para baixo, passará por São Tomé. No Cruzal, poderá ver a cascata deste cantinho. No Topo, na pontinha, irá ver o ilhéu, o único dos Açores, penso eu, que ainda é privado e que serve para alimentar as ovelhas e vacas que passam lá o ano, com as devidas condições. O bem-estar animal é isto, ter uma "ilha" só para si, sem carros, motas e a companhia dos cagarros e gaivotas. Logo ao lado, pode dar um mergulho na piscina da Pontinha. No Farol do Topo, um pouco mais acima, pode visitar e subir até à torre, avistando a Terceira num dia de bom tempo. Há ótimos alojamentos locais nesta ponta da ilha. Procurando no AirBnb, verá as possibilidades para desfrutar de uns dias de descanso neste 'cantinho do céu'.

São Jorge encanta-me todos os dias. Não penso em como é viver em Boston, em Lisboa ou em Toronto. Sinto-me feliz, diariamente, ao acordar e sentir o bater das campainhas do gado aqui ao lado da casa. Ouvir as pronúncias, as aventuras e as histórias de um povo que todos o dias se deita a pensar que, mesmo com dificuldades, é melhor ser ilhéu.

© Rui Silveira
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Maurício de Jesus é natural da Vila do Topo, Ilha de São Jorge. Desde de tenra idade, está envolvido nas Filarmónicas. Acha que só quem veste a farda sente a cultura tão viva como os músicos amadores. Recentemente, criou um pequeno projeto na Vila, a Rádio Ilhéu, da qual é Diretor de Programação.