Verde-água

Lília Silva
#Let's go out

Um manancial de águas escorre a pique pelas escarpas rochosas, de paredes verde-água, enfeitadas. É Outono outra vez. Escoam, pelas falésias, ao encontro do mar… Água e mais água!

No Inverno, parecem verdadeiras torrentes vigorosas, num sem fim.

Não me canso de as procurar, nos diversos trilhos para lá chegar.

No Verão, tenho a oportunidade de as descer, em segurança naturalmente, com quem sabe, através das empresas de canyoning.

Há quem diga que se está no “Havai”. A dita “havaiana” dos Açores, esconde-se, isolada, mas florida, como o seu próprio nome indica, no recanto ocidental, longe de confusões. É, por isso, que se torna um meio natural para meditar, fazer Yoga ao ar livre, escrever, fotografar, pintar, entre outras atividades para quem procura serenidade. Com os seus pequenos 141, 7 Km ² de área total, toda ela é reserva da biosfera.

Espelha os resquícios geológicos da sua formação nas lagoas, baixas, fajãs e ilhéus, em percursos acessíveis, por terra e por mar.

Um passeio de barco, à sua volta, mostra a sua forma, em trapézio, e a oportunidade de ver escarpas e grutas esquecidas na erosão.

Os trilhos, alguns integrados na grande rota e devidamente sinalizados, contam a história de tempos passados, na calçada, ali, esquecida, no meio da vegetação. Que o digam os atletas de Trail Run do Morro Alto Sport Clube.


O tempo, esse parece deambular perdido nas horas que ondulam os dias de Outono e Inverno.

Uma das minhas estações preferidas na ilha, o que não é difícil de perceber. Não há grande afluência nos trilhos e cascatas.

Aqui ou ali, encontra-se, entre Outubro e Novembro, umas pessoas encapuçadas e na vegetação...  Os fãs do birdwatching. Não deixam escapar a oportunidade de fotografar diferentes espécies que por cá esvoaçam, mesmo de leve passagem.

Inverno... O nevoeiro, sobretudo nas zonas altas, como o Morro Alto, com os seus 914 metros, trazem à memória versos de Roberto Mesquita, em Almas Cativas: "Aves do mar que em ronda lenta/ Giram no ar, à ventania, /Gritam na tarde macilenta/ A sua bárbara alegria".

No lado oeste da Ilha, perdemos completamente a noção das horas a contemplar o cair da noite no miradouro do portal: "[...]E o fulvo ocaso em vivas chamas arde!" , descreveu Roberto de Mesquita.

O céu enche-se de cor de fogo, mesmo nos dias um pouco mais cinzentos, paredes meias com as cascatas. Três dias na ilha sabem a pouco, porém sou suspeita!

Para deixarmos a ilha abraçar-nos, é preciso dedicar-lhe tempo. Um tempo precioso de um céu sem limites, que vem beijar a terra, envolto na neblina. Apresentam-se, então, verdadeiros cenários poéticos que inspiraram tantos.  Pedro da Silveira escreveu "Só isto: o céu fechado, uma ganhoa pairando. Mar [...]" A partir de Abril, até Setembro, este pedaço de rocha basáltica oferece as tradicionais festas em honra do espírito santo e dos seus padroeiros, nas sopas de espírito santo e tascas improvisadas de sabores locais e a oportunidade de dançar livremente, ao seu estilo, nos bailes paroquiais, época de acolhimento dos seus emigrantes.

A pé, de bicicleta ou de carro, pode disfrutar-se da ilha e conhecer as suas entranhas. Como já tiveram oportunidade de verificar, é uma ilha para viver aventuras, a sós, com família e/ou amigos. Entre história, biologia, geologia, cultura e tradições, não faltam atividades para preencher os dias! O que esperas para desopilar?

Eu? Eu estou a desopilar num dos muitos trilhos, mesmo com chuva, vento e nevoeiro.


Lília Silva
Professora na EBS das Flores, chefe do Agrupamento 691 de Nossa Senhora da Conceição e presidente de A Jangada - grupo de teatro.